quinta-feira, 5 de abril de 2018

No Ônibus

O Universo conspira a favor  
de quem não conspira
contra ninguém.

Conversadeira que sou, emudeço quando viajo de ônibus então, quando a senhora discreta pediu  para se instalar no banco perto da janela, recolhi pernas e bolsa para lhe facilitar a passagem e me limitei ao "pois não" ao seu pedido de licença.

Da reforma da Rodoferroviária de Curitiba só tinha conhecimento das queixas dos usuários pelo tempo que durou. Ficou bom, aumentou espaço de estacionamento dos ônibus e circulação de passageiros. Fui direto para a banca de revistas reinstalada perto de onde lembro que ficava. Pedi uma e ouço a espantosa resposta da vendedora - não vendemos mais revistas, senhora! Como? Mas isto não é uma banca de revista? E ela, é, mas não tem revista. Surreal!  Decepcionada me senti como quando - abandonado o cigarro - não sabia o que fazer com as muitas mãos que parecia que eu tinha. Subi para o segundo andar do ônibus onde a gente não vê o motorista e pensa que o que nos guia é o desejo das pessoas que se juntaram para ir ao mesmo lugar.

 Meia hora de viagem, a vizinha de banco me perguntou, com gentileza, se eu gostaria que ela fechasse a cortina. Não, obrigada, não durmo no ônibus. Ela começou a puxar conversa. Disse, feliz, que ia pra Balneário Camboriú visitar uma amiga que não via há tempo. Que morava em Curitiba, na rua tal e eu comentei, sei, sei, tenho uma amiga que mora nesta rua e nos pegamos num papo solto! São parecidas as mulheres maduras, por mais diferentes que sejam a suas histórias pessoais têm muita coisa em comum. A viagem de ônibus voou! De repente, chegamos! A amiga já mandara um WhatsApp informando que a estava esperando. Tentei me despedir dela, iríamos pra lados diferentes, mas ela insistiu, "quero apresentar a minha amiga, é rápido!"

A amiga veio ao encontro dela sorrindo e eu a reconheci assim que a vi! Continuava com o olhar brilhante e franco de mais de cinquenta anos atrás! Era a minha querida professora Dagmar, do quarto ano primário! Não me reconheceu individualmente mas lembrou da turma, disse que recebera uma  visita do Bento - que se tornara padre - em Brusque, onde era professora de matemática. O Bento me veio inteiro, aos dez anos, sentado no primeiro banco, à direita do meu.
Não aceitou meus argumentos de que eu moro no lado oposto ao dela e me levou em casa.
A nova amiga, feliz  repetia,"eu sabia que tinha de apresentar a minha amiga a você."

No outro dia saímos juntas. Conversamos e rimos e nos divertimos como se fizéssemos isso a vida inteira. Foi bom e foi mágico. Nos despedimos afirmando que aquele havia sido só o primeiro encontro....

Para Lídia, que seguiu a intuição, insistiu e me fez um grande bem!