sábado, 28 de setembro de 2019

Maude e Eu.

Não temos proteção para o que foi vivido...
                                               Adélia Prado


O filme inglês Harold and Maude, (no Brasil, Ensina-me a Viver), de 1971, conta a história de um jovem, obcecado pela morte e de uma idosa, apaixonada pela vida. Com trilha sonora, maravilhosa, de Cat Stevens (depois Yusuf Islam) o filme nos faz crer na utopia de transferir as próprias vivências aos outros, no caso, a um jovem. E funciona.
O encantamento do filme é maneira que ela tem de se entender, na vida. Tudo flui leve e tudo fica tão fácil que a gente embarca e acredita.

Maude não tem amarras. Mora numa Kombi colorida e enfeitada, mira o espelho de frente e não desvia o olhar. Faz poses sensuais e aprova o que vê. Não diminui a luz e se demora na brincadeira. Ela sorve a vida, satisfeita e agradecida. E dança.

Não dá lições de vida ao rapaz. Ela é. A liga entre os dois se fortalece sem pressa. O moço vai no ritmo dela, com calma. E ficam juntos pela alegria que têm na companhia um do outro.
Harold  começa a  mudar, devagarinho. Desiste de tentar suicídios macabros e abandona o hábito de seguir cortejos fúnebres.

Ela conta das dores que teve e como passou por elas e ele compreende que, lutos vividos, precisamos levar a vida adiante. Vivem uma linda história de amor. Quando Maude se vai, o garoto, depois da tristeza e, embebido do aprendido, segue sereno.

Assisti este filme antes dos 20 anos mas, de alguma forma, Maude se instalou em mim sem alarde como é do seu feitio, e  reaparece agora, talvez porque eu me identifique mais com ela do que com quem eu era naquela época. Faz comigo o que fez com o Harold. Me ajuda no remanejo que a vida pede, sem me forçar a nada.
Condicionada a pensar plural, acerto o passo e passo a pensar singular.
Não piso em falso, sei o que quero e expando os meus limites.

Ando até a me demorar no espelho e arrisco uns passos de dança. E canto.
Maude me inspira.