quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Como Se Não Houvesse Amanhã

"A esperança                                                                                                                                                  Dança na corda bamba de sombrinha                                                                                                      E em cada passo dessa linha                                                                                                                      Pode se machucar"                                                                                                                                                     João Bosco/Aldir Blanc

Adormeço cada vez mais tarde e acordo cada vez mais cedo. Assisto filmes e leio, noite alta, e me apego ao rádio de manhã cedinho. A Educativa Paraná apresenta um programa delicioso, às seis da manhã, chamado Primeiros Acordes. 

Soube que dia 21 seria o aniversário de Altamiro Carrilho e que ele é o brasileiro que mais gravou músicas no Brasil. O celebrado flautista francês Jean-Pierre Rampal - responsável pelo retorno da flauta transversal como instrumento clássico solo - contemporâneo de A.Carilho, o considerava o melhor flautista do mundo. 

Para homenageá-lo, o programa tocou Brasileirinho chorinho maravilhoso de Waldir Azevedo que, além de compositor - era mestre do cavaquinho. A homenageada fui eu.

O programa instiga a minha alma a dançar e eu danço com ela.                                                                  

Toca Procissão, que Gilberto Gil canta rezando e a seguir, Renato Teixeira reza cantando a sua  Romaria. Desconfio que as duas sejam gêmeas, têm o mesmo DNA. Penso que quem fez a seleção das músicas também sente assim. Toda a programação musical da Paraná Educativa é primorosa. Contempla o melhor das mais variadas vertentes, de todos os gêneros.

E lembro do Tico-Tico no Fubá de Zequinha de Abreu, outro mestre do choro, exímio na flauta e no clarinete. Mesmo que Tico-Tico no Fubá fosse a sua única obra, ela já nos deixa, como povo, mais ricos. 

E uma amiga me conta, coração apertado, que se sente impotente quando um filho tem uma dor, dessas de que a vida não nos poupa. Disse que a sensação é a de estar um teatro lotado, instalada num camarote, enquanto o filho enfrenta o seu quinhão de embates sozinho no palco.                                       Não posso ajudar e nem interferir, acrescenta. Respondo que somos impotentes para resolver as querelas dos filhos adultos porém, o filho sabe que ela está lá e que pode contar com ela.

Neste ano de assombro e medo todos, e nunca "todos" foi tão literal, nos sentimos assim, observadores da própria vida, usurpada por um vírus que continua ganhando o jogo. Estamos estáticos como a imagem de um filme que interrompemos para assistir mais tarde, à partir da cena congelada. São duas vidas correndo paralelas. A vida como ela é. E a vida como ela está. É uma experiência inédita e uma oportunidade extraordinária para aprender a ter resiliência - filha dolorosamente parida da experiência - mas que nos capacita a fazer escolhas melhores.                

Neste ano desafiador sem abraço e sem olho no olho, oriento o próprio olhar à procura de delicadezas possíveis. Não desperdiço um gesto de carinho, mesmo que a circunstância o deixe inacabado. Em tempos áridos a garimpagem gera muito cascalho até que se encontre uma pepita de felicidade. Um sorvete ligeiro no quiosque da esquina faz um bem danado. Conversar com uma amiga, mesmo pelo celular, inunda a alma de alegria por uma semana inteira. Mais do nunca, este é um tempo de correr atrás do que, de fato, importa na vida de cada um. Fazer um mea-culpa,  faz um bem enorme.                                                          

Neste ano em que desejar saúde quase significa dizer "espero que você continue vivo", em que o amor precisa ser expandido e vivido além do cercadinho das nossas vontades individuais espero, talvez ingenuamente, que as radicalidades consigam conversar, se não através do afeto, que seja pela civilidade e, ouso sonhar um pouco mais, pela empatia.                                                                            

Aguardo, ansiosamente, a distribuição da vacina no Brasil todo. E lembro do meu pai a me ensinar, minha filha, "na vida quem não sabe ajudar, então que não atrapalhe"

Desejo que este natal diferente seja de paz e alegria para todos.                                                                  Que 2021 nos traga mais soluções do que problemas.                                                                                   Feliz Ano Novo!

 

                   


                                                                                     




  








terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Incomplitudes

 -Você é casada ou solteira? 

 (Pergunta limitante, esta.)

 -Fui quase todos os estados civis.

 -Por quê, quase? 

-Não fui viúva. Muito tempo, casada. Um tempo curto, fui namorada. E você?

-Sempre solteiro. A vida toda. E uma urgência, uma premência de companheira.

-Ah! Companheira!.

-Você, experiente, pode ser a companheira que procuro.

-Não posso. Experiência não se transfere. 

-O que você acha de tentar?

-Tentativas são prerrogativas das ciências, da pesquisa. Exigem dedicação absoluta, empenho total até      acertar.

-Estou disposto a tudo isso!

-Eu, não.




  



Neste Natal, presenteie com um livro!

O livro nos transporta para outros lugares, amplia nosso olhar e nos faz companhia.

Boas Festas!

Clévia Westphalen 


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