sábado, 27 de maio de 2017

Palavras em Desuso

"Com que grandeza
  Ele se elevou
  Às maiores baixezas!"
        Millôr Fernandes

Circula, nas redes sociais, um vídeo onde a poeta, professora e gente de bem, a mineira Adélia Prado, pede, ao auditório lotado reunido para ouvi-la "um minuto de silêncio, um encontro com a nossa coisa mais profunda e nesse minuto de silêncio a gente pedir pelo Brasil" e convida o auditório a rezar um Pai Nosso cantado, junto com ela." É a primeira vez que faço isso," diz, com verdade absoluta. É emocionante.

Evito usar a expressão "no meu tempo" porque, além de um auto descarte que não precisamos cometer, esse, de nos colocar deliberadamente à margem da estrada antes da hora, tem quem o faça por nós, com absoluta competência. Nada contra envelhecer, considerando-se a alternativa. É que hoje lembrei de uma palavra lá, das antigas, que não ouço há muito tempo e que se usava bastante. Lambança!  que lembra lambuza. Podemos dizer que quem faz lambança se lambuza.

No Brasil de nossos dias a lambança generalizada deixa o país todo lambuzado. A corrupção e a roubalheira são tão grandes e diversificadas, que sugiro aos políticos de bem, numa reação às listas de investigados que não param de aumentar, que se reúnam e elaborem, uma lista dos políticos que não aparecem em lista nenhuma! Serviria de sinalizador, para que nós, eleitores, tivéssemos em quem votar nas próximas eleições. Além de alento para os que acreditam que há muito politico comprometido com o bem comum. Eu sou uma destas pessoas. Acredito que existam políticos ilibados (outra palavra que quase não se usa). A divulgação do nome deles seria um serviço que prestariam ao País, de graça, custo zero. É só divulgar nas redes sociais. É um começo.

As lambanças, quando descobertas, expõem  o lambanceiro à execração pública! Ele deveria sentir uma coisa, também em desuso, que se chama Vergonha. Tudo bem, não teve vergonha de se envolver na roubalheira, era o esquema, não tinha como escapar, enfim... mas o que vemos é que o sujeito não sente vergonha, nenhum constrangimento mesmo com o nome exposto, mesmo detido, condenado, preso!
Penso  nas mães e nos pais desses políticos, orgulhosos com a carreira do filho, que, não raro, moram em cidadezinhas pequenas deste Brasil tão grande e que agora sentem, eles, a vergonha que os filhos deveriam sentir, e talvez se perguntem," onde foi que eu errei?"

Recuso-me a acreditar que somos corruptos por natureza e que" político é tudo ladrão," não aceito o conformismo dos que dizem, "sempre foi assim, vem desde Cabral"....Qual?...
Acredito que o Brasil passa por um profundo processo de mudança, e que o caminho para melhorar é através da Política Comprometida com o Bem do Brasil e dos Brasileiros. Acredito que a nossa jovem democracia precisa urgentemente de cuidado e zelo, muito trabalho e empenho de todas as pessoas de boa vontade.
Não levanto bandeiras e nem defendo ideologias. Sei de mim,  não sou corrupta, não roubo, não participo de conluios e nem sei como se faz para subornar alguém.
Passo por ingênua, (será?) mas tenho absoluta convicção de que o Brasil precisa, urgentemente, que as pessoas de bem se manifestem e se posicionem. Nesse momento, não existe nenhuma ideologia política no País. É um salve-se quem puder!
Precisamos de paz, foco e trabalho!








                      

sábado, 20 de maio de 2017

Por Que É Maio e Quando Três é Multidão


É hoje a cerimônia de formatura da minha filha - Mariana - no curso de Doutorado em História da Arte em Dallas, nos EUA. Foi um longo caminho o que ela percorreu. Estudiosa e disciplinada, desde sempre foi atrás de aprender. Lembro do dia em que, menina de 9 ou 10 anos, aluna de pintura do Prof. Luiz Carlos de Andrade Lima, ele me disse : " Não sei o que essa menina vai ser, no futuro, mas sei que será alguma coisa ligada à arquitetura, à arte, aos museus." Lamento que ele não esteja mais aqui para saber que a previsão se cumpriu, inteirinha.

De mim, sei que gostaria muito de estar lá, presente, para celebrar com ela. Nós, as mães, acreditamos que formaturas, casamentos, nascimentos de netos, esses acontecimentos marcantes na vida dos filhos são ocasiões em que estaremos presentes e ponto. Mas nem sempre é assim. Nas voltas que a vida dá, tem horas em que oceanos e fuso horário nos separam, mas coração e pensamento, que não precisam de avião nem passaporte, voam e chegam junto e ficamos felizes como se estivéssemos lá.
É o que importa.

Quando Três É Multidão 

O estabelecido é que o grupo comemore uma vez na semana. Esse é o Estatuto.
Nossa constituição é escrita sem letras e o papel é inexistente. E como funciona! A dinâmica muda de acordo com a composição do dia. A base é o prazer de estar junto. E como é rica de intuição e de sextos sentidos uma pessoa que aprende com o que sente, com o que troca, com o que descarta....
Só não tem sessão, é claro, se acontecer de ficar uma só, mas isso nunca aconteceu.
Quando garantimos nosso próprio divertimento, fortalecemos o coração e a imunidade. Ficamos aptos para enfrentar dificuldades e perceber alegrias. Esse tipo de alegria que sinto hoje, misturada com um orgulho bom pela formatura da minha filha, mesmo que eu não tenha ido.
Peço emprestados à Alice, os votos que ela postou, e os repito aqui:
"Guria!! Sobe naquele palco e arrasa na caminhada com sua roupa de doutora!"



















sábado, 13 de maio de 2017

Continue Sendo!

"Qual seria a sua idade se você não 
  soubesse quantos anos você tem? "
                                      Confúcio

O uso inadequado e abusivo do gerúndio, do que reclamamos tanto e com razão, como
a " senhora vai estar participando", ou " nós vamos estar lhe comunicando" e outras expressões similares, deu à  Forma Nominal  do verbo uma fama injusta e imerecida. A característica principal do gerúndio é que ele indica uma ação contínua, que está, esteve ou estará em andamento. É a ação acontecendo! Digo isso porque quero defende-lo, por injustiçado.

Li uma entrevista com o ator Marco Nanini,  em que ele fala sobre envelhecimento e suas sequelas com a naturalidade dos que aprenderam com a vida, ... "nada me assusta porque são coisas esperadas."  Tão certo como não saber o que o futuro nos reserva, é saber que, com o tempo, a nossa manutenção, digamos assim, fica mais frequente e abrangente. Ir ao médico é uma atitude necessária, porém destemida. O primeiro que consultamos, após checar os nossos exames e nos medicar, nos encaminha para outro, que, por sua vez, nos encaminha para um terceiro. Faz parte. O consenso é que precisamos caminhar muito, beber pouco, comer menos, fumar nada. Por isso, sugiro que comecemos a mudar a maneira como trocamos cumprimentos. Ao felicitar pessoas que queremos bem, fica bom dizer: Desejo que você continue sendo! Nos acostumamos a desejar que a pessoa continue sendo tão amiga ou divertida ou prestativa. etc.... É muito! Continuar sendo não é pouco. Do contrário, é tudo. É a grande questão! Sendo o que é, sendo o que acredita. Devemos desejar sorte também, para todo o resto.  A gente vai indo, cuidando aqui, mantendo ali... e vai levando...

De Mães e de Filhos

Minha sogra dizia - de filhos - "desde que, nunca mais". São eles que nos fazem  mães e sempre será deles o nosso amor sem medida. São objetos do nosso orgulho, dos nossos pedidos de proteção e bençãos. Desejamos que tenham todos os sucessos e que a vida os trate com justiça e gentileza. Foi neles que pousamos - maravilhadas - o primeiro olhar de mãe e serão seus olhos que buscaremos com o derradeiro olhar.

As mães vem sendo santificadas e enaltecidas há muito tempo e de várias formas. Confesso que não gostaria de "padecer no paraíso" e também não acho bacana a versão "supermãe", a que dá conta de tudo. Uma nos coloca num sofrimento inescapável. A outra exige mais do que temos condições de dar.
Levemos a vida, mães e filhos, nos querendo bem, respeitando espaços e escolhas, nos socorrendo quando for preciso, sendo independentes e confiantes.

 Desejo que, neste domingo, Mães e Filhos comemorem com alegria,  porque um só existe por causa do outro. Aos que passarem o dia juntos, que o façam por mútuo querer, sem pressão e sem cobrança. Os que estão separados, que seja somente pela  distância física.










  

   





quarta-feira, 3 de maio de 2017

São Roupas Passadas....

"Escrever é ter a companhia
 do outro de nós que escreve."
                    Vergílio Ferreira

Ele se apresentou como "Apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior"... e se estabeleceu e contribuiu enormemente para o brilho e a importância da nossa música popular. Nos deixou, em 30 de abril, e já faz falta. Foi imprescindível nas playlist  da juventude dos anos 60/70 - quando gravávamos fitas cassetes que rebobinávamos com o auxílio de uma caneta Bic  e sabíamos todas as letras de cor.  Ainda sabemos. Belchior  percebeu, muito jovem, que o "passado é uma roupa que não nos serve mais"... que Elis Regina cantava lindamente.

Recebi o pedido gentil para "fazer parte de suas amizades" de uma leitora de Ribeirão Preto - Fátima - com a alegação de que "gosto muito do que você escreve", e trocamos informações onde ela diz que chegou aos meus escritos através da irmã  - Aparecida - e que "que fico feliz com tudo o que você posta". E como a felicidade é sempre generosa, fiquei feliz também. Nos conhecemos, dona Aparecida e eu, em um bazar de roupas usadas organizado pelas famílias dos cantores infanto-juvenis do Papo Coral  na Paidéia Escola de Música, cujo objetivo foi o de angariar fundos para viabilizar a aceitação do convite recebido da Câmara de Trento - na Itália - para que o Coral participe de um intercâmbio cultural no mês de junho. O neto dela e a minha neta fazem parte do Grupo.

Nestes tempos de sustentabilidade necessária, bazares de roupas usadas são um sucesso e proliferam em todo lugar. A ideia é boa e uma boa ideia é sempre um bom começo. Abrimos espaço em armários atulhados, nos livramos de coisas que não nos servem e que servirão para outra pessoa. Remanejamos e reciclamos. Arejamos casa e armário. É um movimento de vai e vem, porque também encontramos alguma pechincha que é a nossa cara. 

Acredito que, quando Belchior  compara os sentimentos que trazemos a uma roupa que não nos serve mais, ele nos convida a olhar para dentro para identificar o que nos atrapalha. Tem sentimentos que ficaram puídos e gastos e não suportam mais remendo. Tem aquele que nunca serviu direito, e sempre foi um desconforto usá-lo. Tem até um que usamos por empréstimo e passa da hora de devolver.
Fica o que é bom e trazemos conosco. Somos acumuladores, mas só de viver.