sábado, 25 de maio de 2019
Carta Para Antônia
Balneário de Camboriú, 25 de maio de 2019
Minha querida neta preferida,
No dia em que você nasceu chovia muito e penso que venha daí a sua preferência pelos dias chuvosos e frios. Você diz que dias assim são perfeitos e eu digo que você tem sorte porque nasceu no lugar certo.
Lembro de você com quatro anos, inconformada com as folhas que o outono derruba me dizer que, quando crescesse, seria "Presidente do Brasil" e mandaria colar uma a uma as folhinhas nos galhos pelados.
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Você aprendeu que o outono faz cair flores e folhas e que o inverno mantém as árvores nuas para preparar a terra para a explosão de vida que acontece na primavera. Meninas de 15 anos são como a primavera onde tudo brilha, tudo é novo e a vida abre possibilidades infinitas. No entanto, realizar os ciclos da natureza, os tempos certos de maturar fruta bicho e flor é o que garante o equilíbrio da vida em sua beleza e plenitude.
Então, minha preciosa debutante, eu desejo que você adentre neste mundo novo de deslumbramento e oportunidades com coragem e entusiasmo. Que saiba que o amor é a força mais poderosa do mundo e que amar a si mesma é a condição indispensável para não perder a fé. Que a dor faz parte da vida e que podemos escolher como lidar com ela. Como o amor, ela também ensina.
Que não perca o idealismo tão caro aos jovens e que, se não é necessário colar folhinhas caídas é imprescindível que se preservem as árvores. A sua geração terá que cuidar da natureza com mais critério e responsabilidade. Vão ter que aprender com o erro dos mais velhos.
Desejo que você tenha saúde e sorte. Que estude bastante e que conquiste os seus objetivos, que corra atrás dos seus sonhos e que mantenha o bom humor. Ele é uma ferramenta poderosa para a gente viver melhor.
Deus te proteja, te guarde e te abençoe.
Com meu amor,
Vovó
quinta-feira, 2 de maio de 2019
Idéias Fugidias
"O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa quando começa a pensar"
Lupicínio Rodrigues
Revisito fiança e crença que continha desde antanho
Que, bulidas, se alvoroçam sem respeitar hierarquia
Aflita, tento contê-las para lhes dar lastro e tamanho
As danadas, fugidias, escapam como num sonho
E no afã de prendê-las para alcançar meu intento
Escrevo num frenesi o tanto que a mão permite
A verdade é que a escrita fica aquém do pensamento
Faço um gesto, estico o braço na intenção de pôr limite
E a alquimia mutante numa fervura insensata
Teimosamente mistura todo o tudo a todo instante.
E retomo o pensamento na vã ilusão de retê-lo
E agarrar um assunto e a ele dar forma e tento
Mas como tem vida própria é dono do afastamento
E exausta, me dou conta de que coisas de pensar
Vão e vem e serão sempre senhoras do movimento
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