sexta-feira, 29 de junho de 2018

"Olha pro céu, meu amor!" Luiz Gonzaga.

"De cada dia arrancar das coisas uma modesta alegria;
  em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã"
                                                                              Caio Fernando Abreu


O convite para a festa junina chegou em cima da hora pelo WhatsApp.  "Traje típico obrigatório.
Passo aí às 19:00 h". Convite recebido, convite aceito, mas como resolver o problema do traje, assim, quase em cima da hora? Resolveu ir de homem. Sempre se ajeita um paletó, camisa xadrez, uma barba e bigode. Comprou o chapéu de palha por 5,99 no 1,99 mais próximo, acomodou uma almofada sob e camisa e foi. É  mais fácil ser homem, também, nas coisas do trajar.  Fez sucesso! Tanto que, passados alguns dias, um dos presentes na dita festa, convocou-a para ser o " noivo" na festa que organizava. Caprichou! Arrumou gravata e calça de risca de giz, comprou as alianças que, precavida, recuperou no fim da festa para incorporar ao " acervo de itens juninos" .Nada de ser pega de surpresa e ter que se produzir a partir do zero. Vai que surjam mais convites!

 De festas juninas, lembro das de São João, padroeiro da  minha cidade natal  que era um evento de grandes proporções. Movimentava a cidade inteira e as outras no seu entorno. Funcionava assim:  casais de festeiros eram convocados pelo padre para fazer a novena com bingo e ajantarado caprichado. Lembro do churrasco, servido numa placa de funilha, acompanhado de pão e maionese que fazia um sucesso danado. E a galinha com polenta?  O pirão com linguiça? Que bom que era! O dinheiro arrecadado iria se juntar ao resultado das rifas que agitavam a cidade. Todo mundo comprava. O primeiro prêmio era um automóvel 0 KM. A novena terminava um dia antes da festa. Meia-noite do dia 23 era acesa a enorme fogueira e a honra de  riscar o fósforo era de quem a arrematasse  "num quem dá mais" aguerrido!
Meu pai nos acordava, a mim e meu irmão que, rostos grudados na janela do quarto víamos o clarão da fogueira que iluminava tudo.

Finalmente, no dia 24 a festa acontecia nas muitas barraquinhas montadas no pátio da igreja e no terreno do colégio dos padres. Tinha de tudo! Lembro que ganhávamos roupa de festa em três ocasiões: Natal, Páscoa e São João. Quem foi menina naquela época certamente lembra da saia plissada e do conjuntinho de Ban Lon que todas ganhamos para fazer bonito numa Festa de São João.

Não sei como são as festas agora. Mudou muita coisa de lá pra cá.
Rifas são proibidas, mas sempre dá pra organizar uma "Ação entre Amigos." 
O conjuntinho virou Twin Set e Ban Lon  é poliéster ou similares.
Funilha não mudou de nome. Deixou de existir.
Fogueiras daquele porte não são mais bem vistas.
Quem souber me conte!





sexta-feira, 15 de junho de 2018

O Brasileiro e o Futebol

"O que nos une é maior
do que o que nos separa"
                Papa Francisco


Recebi um vídeo em que o ex-primeiro ministro de Portugal, Pedro Santana Lopes é interrompido, em uma entrevista ao vivo, para o canal exibir a chegada do técnico da seleção portuguesa de futebol ao aeroporto de Lisboa. A repórter faz um ligeiro resumo das conquistas do treinador e, em seguida, retoma a entrevista com o político. Ele, profundamente ofendido - com toda a razão, foi uma grosseria imensa - encerra a entrevista. Disse que fez um "sacrifício pessoal" para estar ali atendendo ao convite recebido e que tem "regras e que não as quebra". Terminou pedindo desculpas à repórter e acrescentou que não era "preciosismo" da parte dele. E perguntou "se é assim que se anda pra frente?" Fiquei com pena da moça que, se pudesse, sumiria num buraco e que, certamente, cumpria ordens superiores.

Não sei nada da política de Portugal e os problemas que ela enfrenta e não conheço os políticos de lá. Também não tenho como avaliar a importância do que ele dizia. De Portugal sei que é um país lindo, que podemos andar à noite na rua em segurança e que vemos bandos de crianças pequenas, uniformizadas, fazendo piquenique com os professores em parques e  Museus. Que os arquitetos portugueses são considerados os maiores especialistas da Europa em restauração de prédios antigos e que Lisboa está revitalizando bairros inteiros.
E que Cristiano Ronaldo é um dos melhores jogadores de futebol do mundo.

Impossível não comparar com o Brasil para concluir que não tem comparação.
Em primeiro lugar pela capacidade de se ofender do político português e pela afirmação de que tem regras de conduta e não as quebra. Muitos dos nossos políticos acusados de repetidas rapinagens não têm o menor constrangimento em aparecer na televisão e negar o inegável. Não se ofendem. Não defendem regras e não as seguem porque vale tudo, desde que continuem como estão. Acredito que, neste momento, a figura pública com a maior credibilidade no Brasil é o senhor Adenor Leonardo Bacchi, mais conhecido como Tite, pelo trabalho sério, competente e comprometido que realiza.

Os jogadores de futebol que chegam à seleção, o fazem por mérito pessoal e pelo talento em jogar bola. Se não for muito bom, nem chega lá. Ganham salários milionários, mas não somos nós, com nossos impostos, que pagamos. A maioria vem de famílias pobres das periferias que tiveram a sorte de ser vistos por quem entende de futebol. Não são responsáveis pelos descalabros com o dinheiro público na construção dos estádios e nem pelo abandono em que muitos se encontram.
Também não são responsáveis pela nossa escandalosa desigualdade social que tem muitas razões, mas nenhuma delas é o futebol.
 A nossa infindável lista de mazelas não é culpa do futebol. Estas são consequência da corrupção, do desvio de dinheiro público, do mau uso de impostos e do imenso desperdício em obras inacabadas
O resultado é o sucateamento de hospitais, escolas e estradas. Sem falar da violência. 

A Copa do Mundo de Futebol  é o evento esportivo mais importante do planeta..
É uma festa onde nós, os brasileiros, ocupamos um lugar de honra. Vamos nos apropriar do sentimento de orgulho legítimo a que temos direito.
Vamos torcer pelo Brasil.









segunda-feira, 4 de junho de 2018

Turista em Curitiba

Às vezes a gente se afasta para refletir
Outras, porque já refletiu.
               Helen Villiger


Fiz o cartão de Isento que me habilita para andar nos ônibus em Curitiba e decidi estreá-lo indo ao MON.  Queria visitar uma exposição em que a minha filha participou da montagem e aproveitar para visitar outras, em exibição no Museu.

Desço no ponto indicado e me informo onde fica o do caminho inverso. Esta linha de ônibus, chamada Interbairros 1 circula no sentido horário e anti horário, num vai e vem que funciona muito bem. Sou entusiasta dessas facilidades que levamos muito tempo para conquistar - nenhuma menos de 60 anos. Na bilheteria, a pessoa responsável verifica a identidade e me franqueia o acesso.

Entrei e fui olhando, lendo, gostando do que via e me inteirando do que sentia, tão distraída que só vi que era tarde quando senti fome. Condição recente esta de não precisar me envolver com panelas e horários.Tinha combinado de almoçar com a minha filha na novíssima condição de encontrar o almoço pronto. Só lavar as mãos e sentar, num movimento de retorno, de troca de papéis.

Dia claro, não muito frio, me acomodei na janela e me dei conta, de repente, de que eu estava me sentindo turista na cidade onde criei meus filhos, ajudei com a neta, trabalhei, fiz  amizades fundamentais, completei ciclos, vivi, enfim, por mais de 30 anos.

Sentimento novo que me inundou de alegria. Fiquei contente, nem sei explicar por que.
Será que a "mudança" de que se fala à exaustão não é isso? Soltar - nos dos papéis que foram fundamentais, mas que já cumpriram seu propósito? Este processo não é acionado por um mecanismo de abre e fecha, como uma torneira. Mudança é um esforço contínuo de adaptação às situações novas e de como usar o rico conteúdo do "vivido" para continuar a andança com outros objetivos e interesses.
São novas possibilidades que temos para continuar sentindo o privilégio que é viver.