sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Gracias a La Vida !

"Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él, las palabras que pienso y declaro..."

Composição da chilena Violeta Parra, "Gracias a la vida" é considerado um hino humanista e transformou-se, na voz da argentina Mercedes Sosa, no símbolo da cultura latino americana.
Canção preferida do meu irmão caçula - a quem a vida ficou devendo, e muito - esta letra é uma oração de agradecimento e alerta a todos os que temos opção. Se não sempre - admito - mas "no mais das vezes."

A menina representou, no espetáculo de dança do colégio, a artista homenageada, quando pequena. Feliz com a performance  que seu esforço recompensara, ela queria comemorar com a família. Valorizar os feitos infantis com apreço e respeito é uma das melhores coisas que podemos fazer pelas nossas crianças e pouco tem a ver com dinheiro. E entre brindes e batatas fritas, entre risos e panquecas, entre casos que uns contam e os outros comentam, a mãe, sentada na cabeceira da mesa, observa  que os filhos, morenos e parecidos, começam a revelar os primeiros cabelos brancos. E se dá conta de que suas crianças estão ficando grisalhas. Diverte-se, pensando que é a única adulta que não os tem. Os do genro, loiro, não aparecem.
E ali, no bar perto do teatro, ela entende que tudo está bem. Tudo está no lugar. Todos estão como deve ser. Ela, principalmente. E sente um contentamento agradecido pela família que tem e por aqueles filhos que, diferentes e coerentes tocam a vida, cada um do jeito que é.

Percebe-se - e pensa que, do agora - quer um lugar na janela, para sentir a brisa e aproveitar a paisagem, ouvir sinfonias e assistir espetáculos. Desafinar no canto e desajeitar na dança também vale, desde que seja divertido. Dispensa a primeira fila, nada de pressa e afobação. Seu tempo é o de usufruir. Tem acontecido.



quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Tempo de Planos Possíveis

Da vida corrida que  nos encurta o tempo, devemos separar, como separamos o suco do bagaço da laranja, os significados para viver melhor e utilizá-los para realizar planos possíveis. Não é mais tempo de sonhos distantes, intangíveis, e não vejo melancolia nisso. Planos executados são motivadores pelo movimento e compensadores pelos resultados. É necessário, na idade em que estamos, escolher o que é possível realizar com as opções que dispomos. Não é tempo de lamentar, empacadas nas aflições que nos tiram sono e sossego. É possível escolher como lidar com elas em nosso benefício. Merecemos nos dar o tempo para nos recuperar das ciladas que a vida apronta mas, também, fixar um prazo para colocar ponto final no que não nos serve mais. É hora de decisão. Tudo tem prazo de validade, de iogurte  a sofrimento.

Criei, para mim, um método que tem funcionado bem. Às segundas-feiras faço um balanço da semana que passou. É simples, uma continha de somar e diminuir, aritmética básica. Como me imponho um olhar positivo, chego na terça com saldo na conta. Elegi as terças-feiras como o" Dia Dos Afetos Escolhidos" e, com a conta no azul, saio para meus compromissos disposta a trocar meu estoque de alegria e - como se trata de uma troca - sempre volto com saldo. Assim, vou até a próxima segunda, dia de atualizar as contas. Desde modo, fazendo o balanço semanal e gastando felicidade no justíssimo sistema de troca, acontecem duas coisas indispensáveis para que a vida flua mais leve. Primeira, atualizo meu sistema de gratificação pessoal e segunda, me mantenho atenta para que o saldo de energia boa que tenho no estoque nunca fique perigosamente baixo. Mudar o modo de sentir é o resultado de um grande - e racional - esforço que fazemos para - antes - mudar o modo de pensar.

Vamos criando laços e abrindo novos espaços e a vida fica interessante, com mudança e movimento.  








quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A Carta Que Não Escrevi

Ultrapassada a barreira dos 60 anos, já de posse do Cartão de Idoso - esse crachá gigante que todos conhecemos e nos facilita a vida - me ocorre que, no dia em que chegamos em casa com ele, deveríamos sentar e escrever uma carta com letra cursiva e caprichada, em papel pautado, (procurando um pouco a gente encontra) usar um envelope branco, de boa gramatura, e envia-la pelo correio para o nosso endereço e em nosso nome. Um ou dois dias depois a gente a receberia.
A minha seria mais ou menos assim:

Querida,

Quando deparei com você e seu crachá me dei conta que já se foram 60 anos da sua vida. Voaram, com a brevidade de um sonho ligeiro, e a mim também soa estranho ouvi-la dizer que tem 60 anos.
Gostaria de saber o que você fez com eles, como os gastou, o que usufruiu, porque, você sabe, às vezes as horas demoram muito a passar, alguns dias parecem que não terminam nunca - mas os anos - ah! esses sempre voam. Bem - respondi - não tenho nada de muito extraordinário para contar. Fiz da minha vida o que acreditei que fosse o certo. Acertei e errei, como a maioria de nós. Cuidei. E perseverei.

Mas este crachá gigante e impertinente me alerta para que eu refaça planos porque, você sabe, de vez em quando precisamos abrir a estrada para continuar o caminho. Penso que por mais diferentes que sejam as vidas que levamos, nós, mulheres, somos muito parecidas. Ficamos felizes se nossos filhos estão felizes, nos orgulhamos com seus sucessos e sofremos por eles quando não estão bem. Como todas as mães, espero que meus filhos me liguem para me contar da vida deles e perguntar da minha. Se moram perto, espero que venham me ver pelo mesmo motivo. A família sempre é senhora do nosso primeiro olhar, primeiro interesse e amor maior. Como todas as avós, transbordo de amor e encantamento pela minha neta para quem peço proteção e bençãos em todos os seus dias.
E sigo.