segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Feliz Natal!

Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa 
É de quem vier, quem quiser!
                             "Tá na Globo!"

Dia desses dei de presente umas abraçadeiras de borracha que se adaptam às variadas circunferências das latinhas e garrafas de bebidas long neck.  Práticas e de empunhadura firme conservam a bebida gelada. A borracha é um produto fascinante! Ultrapassa, com folga, as mil utilidades do Bombril. Não enferruja e é aconchegante ao toque. Amortece choques e volta à forma original quando em descanso.
 
Nesses tempos de natal e fim de ano, quando desejamos felicidades, saúdes, compaixões generalizadas, amor e paz e alegria e prosperidade e boa vontade, quando renovamos os votos de esperança e sonhamos com mais justiça, quando enaltecemos a Família como em nenhuma outra data do ano - a Santa e a nossa - me parece que nos colocamos à margem dos votos que formulamos. Mantemos uma distância asséptica e segura, compramos presentes, enfeitamos a casa, preparamos ceias fartas. Cumprimos o rito. E ficamos exauridos.

Do amor de que se fala muito e se pratica pouco, que falta no mundo e de que carecemos nós, penso que seria mais fácil viver se fôssemos como as abraçadeiras de borracha de que falei acima.
Adaptáveis às circunstâncias e às exigências do cotidiano, esta capacidade seria utilíssima nesses dias de festas natalinas.

Sendo "borracha" entenderemos o privilégio que é poder financiar, preparar ou, melhor ainda, participar de uma mesa natalina farta de comida, plena de brindes, de votos de esperança, de sonhos a viver, de vida a acontecer.

E nos lembraremos dos primeiros dia de escola quando o material escolar consistia de caderno, lápis e borracha e a gente apagava os erros, os enganos, os mal entendidos, os equívocos e a folha voltava a ficar em branco e a gente ouvia atentamente, refazia o escrito e acabava acertando. Com a prática, aprendíamos a escrever com mais leveza e a folha ficava com menos marcas do apagado.
A borracha gastava um pouco, mas nunca perdia a forma.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos nós!
Tim Tim!!























quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A Porta Amarela

 "Louvado seja Deus que não sou bom,
   E tenho o egoísmo natural das flores
   E dos rios que seguem o seu caminho
   Preocupados sem o saber
   Só com florir e ir correndo
   É essa a única missão no Mundo,
   Essa - existir claramente
   E saber faze-lo sem pensar nisso."
                 Alberto Caeiro (Heterônimo de Fernando Pessoa)

A porta do banheiro da nossa casa era amarela. Meu pai repetia como um mantra, antes de irmos dormir  " passou pela porta amarela?"
Ao abrir a janela do banheiro dávamos de cara com a cisterna instalada junto à parede. Ele mandou construí-la para recolher água da chuva. Entendia que a água era um bem precioso e que devíamos aprender a poupá-la. Eu tinha uns 12 anos quando ela ficou pronta e não achava estranho o fato de termos uma cisterna onde um cascudo - peixe de água doce - tinha a função de manter o reservatório limpo de limo e de insetos. A água coletada era usada para molhar flores e grama, lavar calçadas, umedecer as roupas que alvejavam ao sol.
Era cheia de engenharias, a nossa cisterna. A toneira era rosqueada para permitir o engate da mangueira e, quando chovia muito, a calha instalada no alto do tanque expelia, na calçada, o excesso de água captada pelas calhas do telhado. Ainda lembro do murmurio da água, nas noites de chuva branda que eu ouvia como fosse uma canção de ninar. Deve ser por isso que o barulho da água mansa me faz dormir até hoje.

No prateleira do banheiro ficou guardado, durante anos, um litro de vidro alto e fino, com tampa inoxidável e cheia de retorcidos que me deixava fascinada. Continha um excelente azeite português, presente da minha avó, mãe de meu pai, portuguesa chegada à azeites e bacalhaus e que nunca soube que ele, embora gostasse de peixe, não suportava do azeite e do bacalhau nem o cheiro. Isso não o impedia de, ao chegarmos na casa dela, nas visitas das férias de julho, repetir o bacalhau feito em sua homenagem. Dizia que que a mãe da gente não deve saber que não gostamos de algo que ela nos prepara...

Aquele litro de azeite, nunca consumido, desapareceu depois de muito tempo e lembrei dele porque sempre achei normalíssimo ter um litro de azeite no banheiro e uma cisterna com peixe na casa em que morei até adulta.


Assim como "O Inferno São Os Outros" da fala de Sartre, "Os Esquisitos Nunca Somos Nós"
Os costumes e os hábitos que trazemos de casa e que estão amalgamados n`alma nos inserem e  identificam. Penso que seja esta a função da família. Somos da mesma tribo.

Fora a adolescência - parênteses em que tudo o que queremos é ser igual - todo o antes, da infância e o longo (com sorte) depois, da idade adulta - o que  buscamos é o nosso lugar no mundo que não é, e não deve ser, o lugar e nem o sentir de mais ninguém.
Se toparmos, na jornada, com alguém com quem fizermos uma liga rara de entendimento e troca  que dispense palavras, então será como acertar na loteria todos os dias.

Desejo a todos um Natal de percepções particulares e que delas brotem generosidade, entendimento e respeito a tudo o que não lhes for familiar e de identificação instantânea.
Abrir olhar e coração para o diferente é muito enriquecedor porque aprendemos outros jeitos de  viver e de estar no mundo. O resultado é que aprendemos mais de nós.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Show Que Nos Tirou do Chão

"Tem um aviso na porta do meu coração:
  Quem não canta conforme o ritmo da casa,
  Não perca tempo tocando a campainha."
                               Maria Bethânia


Hoje é dia de ressacas porque, depois do esforço, do estresse, dos ensaios repetidos à exaustão acordamos com o som do celular a nos anunciar as repercussões da apresentação que a "nossa "  -  pronome possessivo que nos insere e acolhe - Paideia Escola de Música - já tornou um clássico de final de ano. Regentes e cantores, instrumentistas, organizadores, técnicos, todos aprendizes dessa maravilhosa expressão que desmancha fronteiras e desmantela preconceitos -Ela, A Arte - em todas as sua manifestações, é o que nos redime e nos alforria da dureza do dia a dia. E  nos humaniza e enriquece.

Tempos duros são propícios às artes. Ouso acreditar que as civilizações persistem por causa das criações artísticas que reagem ao bruto, ao escuro. Individualmente é essencial resgatar o sentimento particular  da emoção. É ela que nos permite entender quem somos, o que queremos e o que nos impulsiona, nos impele a prosseguir. A emoção, esta moça que anda de mãos dadas com a ilusão é necessária como o ar que respiramos.

Nosso Grupo Vocal - o Tempo Certo - apresentou duas músicas: a primeira, da grande sambista Dona Ivone  Lara fala sobra a força da imaginação - a que vai lá, chega lá ... e que concede a oportunidade a quem canta e a quem ouve de imaginar o que quiser e lhe fizer bem.
Imagino Dona Ivone entrando no céu e pedindo licença a São Pedro  que lhe responde: entra Ivone, você não precisa pedir licença...
Peço licença eu, ao querido Manuel Bandeira que, suponho, não se importaria com a troca de sua Irene pela nossa Ivone. Quero crer que Ivone tem o aval dele, também. E, como a imaginação me permite, penso que os três, junto a São Pedro, estejam versejando e cantando.

A segunda música que cantamos é a resposta bem humorada de Lenine ao Zeca Pagodinho e a sua clássica Deixo a Vida Me Levar.  Com o tema de Quem leva a Vida Sou Eu o artista complementa
o argumento do colega e fecha a questão.

A mistura da disposição dos dois é o que nos permite ir administrando, escolhendo e ir tocando a vida e seguir em frente, enfim...mas aí já tangemos as artes de Renato Teixeira... fica a dica....

E somos gratos, todos nós, os envolvidos, ao" respeitável público", que nos prestigia e aplaude!