segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ética e Etiqueta

Assisti, em um clube de Curitiba, a palestra do Historiador, Filósofo e, antes de tudo, Professor Leandro Karnal, que falou sobre Ética, Política e Comportamento.
Com timing exato de pausa, graça e seriedade, ele mantém a atenção do público da maneira como os muito bons no que fazem conseguem. A percepção que tive é de que é fácil e leve, como quando vejo um artista que sabe o quanto de suor, esforço e estudo dispendeu para chegar até ali. Leandro Karnal é um Estudioso e um Pensador.

Ao falar sobre ética, falou também sobre etiqueta, sua irmã menor. Etiqueta é a ética do dia a dia. É o respeito ao empregado, ao diferente e ao que pensa diferente de nós. É a gentileza no trânsito, respeito às filas e por aí vai. Não tem nada a ver com o uso correto de talheres e taças. Isso é traquejo social. Aprendemos em casa, na vida ou em cursinhos de um mês que não nos deixam fazer feio em jantares mais formais.

Ética é o modo como tocamos a vida. É ser confiável nas relações pessoais e de trabalho.
Ética é lisura de atitudes, comprometimento com escolhas e reconhecimento de erros que todos cometemos. É não enganar e iludir para obter vantagens de quaisquer tipos.

 Acredito que maturidade é tempo de se ter um olhar para dentro. Conhecer-nos e reconhecer-nos nas qualidades e nos defeitos que temos é um freio poderoso na vaidade. Devemos usar o que aprendemos com os percalços e alegrias da jornada a nosso favor. Levar a vida do jeito mais parecido conosco nos garante alegria e bom humor. Com um pouco de sorte seremos boas companhias. Seremos densos, não pesados.









segunda-feira, 20 de junho de 2016

Outra menina e Galinhas

A menina observa, atenta, o trabalho do homem que veio para cortar a asa das galinhas que tentam voar para fora do terreno onde fica o galinheiro. Ele segura a galinha firmemente sobre o cepo de cortar lenha e, com uma machadinha, dá um único golpe na asa esquerda da ave. Em seguida, solta aquela no galinheiro e, hábil, pega outra e repete o procedimento até que não sobre nenhuma sem a asa cortada. Espalhafatosas e barulhentas como são as galinhas, elas tentam um voo desesperado e desequilibrado por duas, três vezes e se esborracham no chão. De repente, desistem e passam, calmamente, a catar minhocas como se nada tivesse acontecido. A menina aprende que, para voar, é necessário ter equilíbrio.

Da menina também cortaram as asas, as duas, com a " melhor das intenções" - esse pecado disfarçado de bom moço e tão abrangente  que só se apresenta no plural - para que ela não corresse riscos de se machucar e ficar bem, presa e segura ao chão onde pisa. Elas, as boas intenções, costumam agir em conluio com as vaidades, em quem esbarram nos estreitos labirintos que entopem o inferno. A menina aprende que, para voar, é necessário ter asas.

Como as galinhas, a menina tenta dois ou três voos com o cotos que ficaram mas não consegue sair do chão. E são atentos os cortadores de asas, de galinhas ou de meninas. A cada ameaça de voo solo, elas  são devidamente aparadas.

Com o tempo, as galinhas vão pra panela e a  menina vai fazendo o que se espera dela, até que um dia percebe que aquilo tudo já não tem valia, perdeu o significado, transformara-se em um estorvo. E a mulher aprende que precisa de asas para seguir.

Resgata em si aquelas que sempre foram suas, sacode-as, tira delas o pó, testa-lhes a capacidade. Fontes seguras me informaram que ela está aprendendo, tem feito voos firmes e dizem até que tem voado cada vez mais alto.
E eu fico muito feliz por ela.





quinta-feira, 16 de junho de 2016

Comida Boa, Bom Começo

A neta  "sabe vó, eu vou casar com um homem que me dê só comida boa começando pela festa do casamento. Vai ter salmão, muito sorvete e o bolo vai ser uma cascata de cupcakes. E é claro que vou servir milk-shake de cappuccino. A lua de mel vai ser na Itália para eu comer massas todos os dias."

Infantil à primeira vista ( difícil encarar o milk-shake)  a proposta é prática e objetiva. Para que não restem dúvidas e mal entendidos, a lua de mel, uma espécie de tour gastronômico, sinaliza que o combinado é pra valer e é assim que será, desde o começo. E o combinado, como sabemos, não sai caro. Se o arranjo não for do gosto do noivo cabe a ele dizer que não aceita. Podem fazer rearranjos que atendam aos interesses dos dois ou até desistir do casório.

Nós, adultos, temos muito o que aprender com esta postura, Colocando-se como protagonista da própria história, a menina sabe o que quer e do que gosta. Se agíssemos assim nos assuntos determinantes da nossa vida, seria mais fácil corrigir rotas e reagir mais depressa aos ventos contrários que sopram no caminho.

Não por acaso, em todo o mundo, as celebrações mais importantes começam em torno de mesas fartas e boas bebidas. Tudo o mais vem depois. Comida bem feita e companhia certa são a receita infalível para momentos de amor e alegria.
E começar bem é meio caminho andado para continuar melhor. 
A menina sabe o que realmente importa.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Aniversariante do Mês

Faço parte de um grupo de Canto Coral e aprendo e me divirto e vice versa e é tudo tão bom que nos dias em que tem aula já acordo contente e cantante e o grupo inteiro é assim. Achamos graça de tudo e rimos por nada e o professor querido se empenha e se esforça para conseguir a atenção e concentração do pessoal. E cantamos bonito e estamos melhorando bem.

O estabelecido é comemorar os aniversários sempre depois da aula e nunca no mesmo lugar. Como quase a metade aniversaria em um único mês e o grupo tem uns 14/15 membros, sobra mês ou  falta aniversariante. Questão fácil de ser resolvida, decidiu-se comemorar, nesses meses, natalícios em geral. E a turma vai e canta Parabéns à Você, e brinda a humanidade toda. E  brindamos de novo, desta vez só porque é bom. Desconfio que sejamos o terror dos garçons. Daí um bom motivo para não repetir lugares...

Esses grupos que fazem aulas de canto ou dança têm, em comum, o fato de serem heterogêneos. São pessoas das mais diversas profissões, idades e origens. Trazem vivências diversificadas e pensam a vida cada um à sua maneira. Porém, o fato de escolherem esta ou aquela atividade, cria um fio condutor invisível que vai dando personalidade ao todo, e sabemos, nós e o Principezinho, que o essencial não se mostra ao olhar. O resultado é uma troca rica que expande cada um e a todos. Todo mundo ganha. Todo mundo cresce. Todo mundo fica mais feliz!


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Um Pouco de Meu Pai


Meu pai foi um homem correto e bom. Eu tinha trinta e um anos quando ele se foi e fiquei numa orfandade doída e sem medida. Era meu amigo, meu cúmplice e meu exemplo. Me ensinou a gostar de livros e de vinho e lembro que, já sem ele, ao ver cálices expostos em uma loja senti um aperto no peito que me tirou o ar. Única filha com mais três irmãos penso que ele deveria ter sido um pouco menos rígido comigo mas, considerando a época e o lugar de onde vim, ele seguiu a cartilha vigente.

Nos conflitos e embates adolescentes que tínhamos em casa ele, sempre mediador, insistia em afirmar que é possível lidar com as pessoas e conciliar diferenças. Todos têm, dizia ele, um lado certo para chegar e o desafio era descobrir como...Mais tarde, já maduro, ele reavaliou este conceito e me confidenciou, meio em segredo, que "tem aqueles, sabe, que não tem jeito, não tem acerto e não tem conversa". E então, como a gente faz? "Ah, dizia ele, quando não tem jeito, não insista, desista".

Hoje, quando tenho mais idade do que ele tinha quando o perdi, percebo o quanto ainda aprendo com o que tive de exemplo, muito mais do que de discurso, e de quanto era simples e bom estar em sua companhia. E penso que luxo mesmo é ter por perto pessoas boas que nos dão conforto e alegria só por fazerem parte da nossa vida.