quarta-feira, 1 de junho de 2016

Um Pouco de Meu Pai


Meu pai foi um homem correto e bom. Eu tinha trinta e um anos quando ele se foi e fiquei numa orfandade doída e sem medida. Era meu amigo, meu cúmplice e meu exemplo. Me ensinou a gostar de livros e de vinho e lembro que, já sem ele, ao ver cálices expostos em uma loja senti um aperto no peito que me tirou o ar. Única filha com mais três irmãos penso que ele deveria ter sido um pouco menos rígido comigo mas, considerando a época e o lugar de onde vim, ele seguiu a cartilha vigente.

Nos conflitos e embates adolescentes que tínhamos em casa ele, sempre mediador, insistia em afirmar que é possível lidar com as pessoas e conciliar diferenças. Todos têm, dizia ele, um lado certo para chegar e o desafio era descobrir como...Mais tarde, já maduro, ele reavaliou este conceito e me confidenciou, meio em segredo, que "tem aqueles, sabe, que não tem jeito, não tem acerto e não tem conversa". E então, como a gente faz? "Ah, dizia ele, quando não tem jeito, não insista, desista".

Hoje, quando tenho mais idade do que ele tinha quando o perdi, percebo o quanto ainda aprendo com o que tive de exemplo, muito mais do que de discurso, e de quanto era simples e bom estar em sua companhia. E penso que luxo mesmo é ter por perto pessoas boas que nos dão conforto e alegria só por fazerem parte da nossa vida.


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