quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Fevereiro.

Aparece num dia qualquer de janeiro, depois do balanço do ano anterior. De repente, está. Não me surpreende porque sei que é assim que ela funciona. Dou-lhe a minha mais completa atenção e a mais profunda compaixão. Relevo seus equívocos e enalteço os acertos. Esses nossos encontros são recentes, coisa de cinco, seis anos. Começaram quando passamos muito além do meio do caminho. Expomos o próprio inventário com cautela, respeitando as fragilidades uma da outra. Sentimos que é onde nossas paralelas convergem e se realimentam. A cada encontro nos perdoamos melhor.

Com o passar do tempo a energia dispendida é maior e as forças, recém recuperadas, se esgotam mais rapidamente. Ela acabou de me deixar, nesses últimos dias de fevereiro, senhora de mim, pronta para seguir. 

Este, porém, será um ano excepcional, fora da curva, prenhe de vida.

A neta, de dezoito anos, recebeu o primeiro salário do primeiro estágio e, num desses momentos nos quais a vida nos põe completas, convidou duas amigas, o namorado, e o filho da esposa do pai para jantar. Esclareceu que bancaria tudo. Informou que seriam sfihas, sem limitar quantidades, porém, sem chances de sair do cardápio. Esqueceu, por absoluta inexperiência em bancar custos, que os restaurantes, por mais baratos que sejam, tiram o lucro no custo das bebidas. Fez-se o impasse!

Decidiram comprar um refrigerante gigante no supermercado do outro lado da rua. A garrafa foi escondida embaixo da mesa e consumida no gargalo por todas as bocas. Acreditaram que  ninguém  percebeu. E riram muito, e contaram e repetiram  e se divertiram a cada vez em que narraram a história. O menino, de dez anos, foi o que mais curtiu, e ela, a irmã postiça, virou a heroína da vida dele. Quaisquer ciúmes  recíprocos que existiram se dissolveram naquele episódio.

Ontem nasceu o irmão de ambos. Dela, por parte de pai e dele, de mãe.

É meu segundo neto, com dezoito anos de diferença. Estamos, as famílias, envolvidos nesse momento de júbilo em que a vida, a que sabe das coisas, nos presenteia com o milagre, a alegria e todo o porvir que uma criança encerra em si. Pessoas que o destino juntou e que, ao dividirem alegria, multiplicam esperança.

Recém tinha me despedido do meu lado avesso, o que citei acima, mas sinto que esses encontros que mantenho comigo uma vez por ano precisam acontecer mais amiúde, serenamente, porque o caminho é largo quando os ciclos do viver se cumprem no tempo certo. 

Bem-vindo, menino bonito. Saúde e sorte. Que a vida seja generosa com você e o trate com delicadeza.

Salve, Jorge!