segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Equívocos

Equívocos

Quando ele a convidou para jantar e comemorar o Dia dos Namorados ela estranhou mas, aproveitou a oportunidade para executar o plano tão sonhado. Estaria segura em um lugar cheio de gente. Não ousaria agredi-la. Indispensável chegar bem antes da hora marcada. 

Ele chegou sorridente e com um lindo buquê. Disse que ela estava bonita e pediu um vinho. Sorriu, tensa e alerta. Delicadezas assim não eram do temperamento dele. O plano de terminar tudo ficava - à medida que o tempo passava e as gentilezas continuavam - mais difícil de executar. Bebericou o vinho, mal tocou na comida.

De repente ele ficou sério, apertou o queixo dela, exigiu que não desviasse o olhar. Você sabe por que estou tão bonzinho, querida? Não? Não sabe? Quer adivinhar? Apavorada, não respondeu. Acariciava os cabelos dela, sorrindo e ameaçando baixinho. De vez em quando fazia uma graça com ar sedutor. Quem visse pensaria numa cena de amor. Ela só conseguia pensar na mala. Será que o garçom deixou a mala à mostra? Será que ele reconheceu a mala? Será que era amigo do garçom?

Vou embora, sua tonta, odeio você, tenho uma namorada linda, louca por mim sussurrou, entre dentes, num crescendo de ofensas. Ela, respiração suspensa, não ouvia  mais nada. Sua atenção estancou no "vou embora". Quase não conseguia disfarçar o alívio; continuava muda. Finalmente ele se levantou, pegou o buquê e acrescentou, vamos repartir, meu bem, eu fico com as flores, você fica com a conta. E saiu, dando risada. 

Ela respirou fundo e pediu um café. Mal acreditava na sorte que teve. Fez uma ligação de celular e ninguém atendeu. Insistiu, nada. Verificou as mensagens, nenhuma.  

O restaurante estava quase vazio. O último casal se retirou. Ela pagou a conta, levantou -se, vestiu o casaco e se encaminhou para a saída.

O garçom perguntou e a mala, senhora? O que faço com a mala? Tenho certeza de que você saberá dar um bom destino a ela, respondeu. E saiu, leve e segura. Sentia que flutuava.