"A Paixão Passa. O Amor Lava e Cozinha"
Domínio Público
Ganhei dois vinhos. Num, a recomendação "P/sagu"
E agora? pensei - das coisas que não aprendi, uma delas é preparar sagu.
Tentei muitas receitas. Segui o passo a passo de cada uma. O resultado era o Sagu Solidário, versão Unidos Venceremos. Coisa para comer de garfo e faca. Com o tempo, evolui para o Sagu Carnavalesco, O Que Vinha Em Blocos... até que desisti. Desse desaprendizado aprendi que quando não dá - não adianta! Tem hora que é melhor reconhecer que a coisa não vai. Como pode ser tão difícil acertar o ponto dessa sobremesa corriqueira que reina, absoluta, em churrascarias de beira de estrada e é onipresente em todos os restaurantes por quilo? Comum em todo o sul, o sagu brasileiro é extraído da fécula da mandioca - ou aipim ou macaxeira - depende de onde você mora.
Falo isso porque existe outro - extraído de algumas espécies de palmeiras - curiosamente chamadas de saguzeiros e é consumido em larga escala, lá pras bandas do Extremo Oriente.
O nosso sagu, acertada a receita, fica com as bolinhas brilhantes e transparentes, tingidas de roxo pelo vinho e que se unem por afinidade e se separam por individualidade. Cada uma é inteira como tudo deveria ser. Não sei fazer sagu, mas é até possível filosofar com ele - daqui - da mesa da minha cozinha.
Das lembranças fortuitas que trazemos, lembro de uma ocasião em que eu, indecisa em frente de uma vitrine de confeitaria, vi se aproximar um menino de uns seis ou sete anos que, liberado para escolher pediu, taxativo, à moça atrás do balcão: Vou ficar com o saguzinho! A atendente explicou que aquilo era uma calda de frutas vermelhas, o que deixou o menino, antes tão seguro, completamente confuso e decepcionado. Que sabia ele de frutas vermelhas nesse nosso Brasil de bananas e melancias?
Demorou para se convencer de que não tinha sagu na confeitaria e com o olhar conformado, disse, "então vai um brigadeiro". Faz tempo isso, ainda não havia brigadeiros gourmet, o que teria sido uma covardia com o menino. Deve ser adulto agora e espero que continue sabendo o que quer.
Persistia a questão de como usar o vinho, que era muito superior a qualquer um que se usa para fazer sagu. Optei por sobrecoxas de galinha caipira que, na falta de conhaque, flambei com cachaça Boazinha e cozinhei devagar no vinho Ficou bom. Servi com polenta mole, cozida no fogo baixo em panela grossa.
O prato fez bonito na companhia do vinho - o outro - que, por sua vez, se comportou muito bem!
Só para esclarecer, a sobremesa não foi sagu.