segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Os Livros

"Haja hoje para tanto ontem.
  E amanhã para tanto hoje.
  Sobretudo isso."
  Paulo Leminski  
                             
Terceiro Ato - o livro que surgiu dos textos que publiquei no Blog 60! Eagora? que minha filha enviou para apreciação de algumas editoras - e que foi lançado pela InVerso, dia oito, em Curitiba -foi a realização de um sonho que eu nem sabia que tinha.

Foi uma vertigem  - do primeiro contato com a Editora até o lançamento - e a sensação que eu tinha era de que o tempo me pressionava num turbilhão de urgências e emoções que me faltava tempo, o do relógio, para processar tudo aquilo.
E me recolhi.

Se me pedissem para escrever, o máximo que conseguia, no dezembro que está a um passo de nos dizer adeus, eram listinhas de supermercado. Foi impossível ir atrás de presentes de natal, enfrentar shoppings e filas. Estava dispersiva, bem mais do que já sou. Não conseguia me concentrar em nada.

E chegou o dia 24 e a azáfama da festa me colocou na ceia e na cena. As nossas crianças - porque são nossas as crianças com que partilhamos Papai Noel e Natal, cumpriram a função de nos lembrar a magia da imaginação e do sonho.
Foi um Natal alegre.

Dia 25 recebi a foto de um livro com a receita do "Gelado de Abacaxi"com o crédito "Tia Clévia"  e um texto onde minha amiga Regina me contava que a namorada do genro - para homenageá-la, e a mãe, as irmãs, as filhas, as sobrinhas, as amigas e todas as mulheres, por extensão e identificação -  digitalizou o caderno de receitas da amada Lu - menina que se criou com as minhas, tão linda, tão alegre e tão querida e que nos deixou, depois de muita luta, numa  idade em que é impossível mensurar a dor dos que ficam.

Regina me permitiu contar essa história bonita, nascida de uma perda imensa, que conta a delicadeza de sentimentos dessa moça que teve a ideia gentil de unir receitas e mulheres no mais significativo ato de comunhão e amor. O alimento.
A leitura do texto que acompanhava a foto rompeu em mim o dique que represava um pranto antigo. E caí num choro catártico e chorei muito e chorei tudo.

Aprendi, com o tempo e com a vida, que feridas sem fundo e sem bordas cicatrizam devagarinho com os pequenos consolos do dia a dia e com a seleção, sempre objetiva, dos melhores momentos para guardar na memória.
Dou importância imensa às alegrias miúdas, aquelas que enxergamos com o treino do querer ver o que é positivo. É uma ferramenta poderosa que temos à disposição e que nos ajuda a aceitar o que não é possível mudar.
Com o tempo, aquela dor insuportável, que aperta o peito e escasseia o ar vai diminuindo e se transforma em íntima companheira da nossa jornada.

Feliz 2020, para os presentes, os ausentes,
os próximos, os distantes,
os que pensam como a gente
e os que pensam diferente!