domingo, 29 de maio de 2016

Realidade e Caixinha de Jóias

É exaustivo organizar, arrumar, nos instalar num novo lugar e arrumar de novo a casa e a vida. Essa labuta que nos ocupa o tempo inteiro  não deixa espaço para mais nada. Ficamos tão envolvidos por ela que não sobra nenhum tempinho para pensar nossos sonhos e, além de pensar, nos mover nos sentido de realiza-los.

Nas situações difíceis pelas quais todos nós passamos na vida, nessas horas em que nem faz sentido sonhar, quando precisamos usar toda a nossa energia para resolver problemas e ir levando a vida do jeito que dá. Nessas horas, devemos  guardar nossos sonhos numa caixinha de jóias, daquelas lindas, de boas joalherias, e coloca-la num lugar especial dentro de nós. Não gosto de guardar sonhos em gavetas ou pastas. Gavetas, porque quase sempre são bagunçadas, guardam barbante e esparadrapo e não se prestam para acomodar delicadezas. Pastas, porque são tão formais e antissépticas que os sonhos, com certeza, ficariam espremidos ali.                                        

Caixinhas de jóias, não. Quase sempre são de veludo e envolvidas com uma fita bonita de laço perfeito. Ao serem abertas revelam surpresas. Acredito que é isso que acontece com os nossos sonhos guardados nelas. Um belo dia quando a coisa toda passou e a vida segue seu rumo com mais calmaria, pegamos a caixinha e, ao abri-la, somos surpreendidos por um sonho novinho em folha que faz todo o sentido porque ressurgimos numa nova versão, também novinha em folha.



domingo, 22 de maio de 2016

Mudança e Desapego

Mudança feita cabe, no novo endereço, ajeitar o que trouxemos. Nos primeiros dias andamos feito baratas tontas de lá pra cá sem que o serviço progrida, sem que se note algum indício de coisa arrumada. A impressão que temos é de que nunca, nunca mesmo conseguiremos caminhar sem tropeçar nas caixas e armários da transportadora. O lugar é menor então cabem menos coisas, simples assim. Mas, se antes de mudar medimos espaços e móveis e só vieram os que de fato caberiam, por que mudança dá tanto trabalho e faz tanta confusão e bagunça?

Porque deixamos os móveis, mas trouxemos o seu conteúdo. E aqui, no apartamento mais adequado ao nosso momento de vida, nos vemos com uma montanha de coisas que não tem como guardar.
Nesse momento começa a terceira etapa da mudança, a do descarte. Separar roupas e calçados para o bazar da escola, linhas e lãs, fitas e fios para o grupo de voluntariado, roupas de cama para aquela amiga que organiza uma casa de acolhida para carentes de tudo. E a coisa vai fluindo e indo e vemos quanta coisa guardamos sem nem lembrar que tínhamos e como é bom dar-lhes um uso útil para outras pessoas.

Nesses tempos em que a palavra "desapego" é usada sem muito critério, penso sobre qual é o verdadeiro significado dela. Não trazer a sapateira nos faz perceber que podemos doar alguns sapatos, mas isso é fácil.

Desapego, no meu entendimento, é corrigir a rota do nosso viver sempre que for necessário. Abandonar certezas que pareciam eternas e que não fazem mais nenhum sentido. Descobrir o que nos é essencial e ser fiel a nós mesmos. Perceber que não somos mais os mesmos, não obstante nos reconhecer em quem somos agora.



sábado, 7 de maio de 2016

De Rescaldo e Bifes

Há de se embalar porcelanas, pratas e cristais. Nada muito, mas sempre tem o que significa um afeto, uma referência de alguém que continua a ser uma lembrança boa. É bom levar - não carregar - os objetos que nos remetem à risos claros e alegrias genuínas, Coisa pouca, pouco volume. Precisamos pisar com cuidado no terreno dos desapegos e, com mais cuidado ainda, no dos apegos. É fácil quando falamos de vasos, pratos e tapetes. Complica, quando para seguir é necessário desapegar de sentimentos amalgamados na alma, na pele, no hábito. Situações que não existem mais porque a vida muda e as pessoas também. Aí é imprescindível deixar onde ficou e seguir em frente.

Selecionamos o que levar na mudança de casa, separamos roupas, objetos, coisas que vamos doar e que servirá - que bom! - para outras pessoas. Levamos, dos úteis, geladeira, camas, mesas e cadeiras. Dos que dão cor e sabor à vida, os cálices, os baldes de gelo, as panelas certas, a de risoto, aquelas, maiores, que acomodam as caldeiradas fartas para amigos certos.

E vamos, com o rescaldo que nos mantém de pé para outro momento da vida, e no novo endereço saímos à procura de um lugarzinho simpático e aconchegante para comer um belo bife ao ponto, por gentileza! E pedimos uma cerveja bem gelada porque, afinal, ninguém é de ferro. Saúde!




quinta-feira, 5 de maio de 2016

Pilates e Borbulhas

Foram dois telefonemas logo de manhã, quase em seguida, e ambos diziam o que não estava sendo ouvido. De um, por angustiado, e do outro por estar em outra. Começara bem o dia. Um exercício de escolha do que sentir. Urgia não se atrasar para a aula de Pilates que começaria em meia hora. A porta, sempre encostada, estava fechada e, ao tocar a campainha, ouviu a voz da professora a reclamar a "senha" para poder entrar. Senha? Que senha? E ela, abrindo a porta, "Feliz Aniversário, querida! na mão um espumante prestes  a explodir e as outras alunas, sorriso largo, taça nas mãos,
prontas para o brinde! Foi a primeira vez na vida que fez uma aula, pelo menos de Pilates, com a cabeça tão leve como a alma. 

Esses brindes borbulhantes de champanhes e espumantes, de repente, começaram a ser tornar mais frequentes na sua vida. É chegado o tempo de celebrar e de agradecer. São cumulativas as experiências do aprender, e no esteio do que crê, ancorada no que tem, ela segue a navegar no que precisa. E prescindem de dinheiro as alegrias da alma.

O dia promete. Aguardemos!




segunda-feira, 2 de maio de 2016

Amizade Não Tem Preço

Estando com saúde e autonomia já temos o mínimo necessário para uma velhice sem muitos sobressaltos. Certo que uma dorzinha aqui outra ali faz parte da nossa rotina, mas elas foram vindo e foram ficando, indo e sempre voltando, até se transformarem em companheiras de jornada . Eu mesma tenho uma relação de confiança absoluta com as minhas. Posso confiar! não vão deixar me na mão. Dá para barganhar com elas, estabelecer combinados, "olha, se você der uma trégua hoje, prometo que vamos ao médico semana que vem"...

Precisamos manter o interesse na vida e o entusiasmo nas coisas do bem viver. É um exercício diário que exige disciplina e esforço consciente da  nossa parte. Dá trabalho e dá resultado! Manter o foco é indispensável e o foco, nesta fase do agora, é nosso! Para mim, o grande presente que a vida tem me dado, são novos amigos queridos, tão próximos do meu sentir e do meu querer que parece que sempre estiveram ali. E resgatei amigos de muitos anos que não via há um tempo longo demais e que sempre somaram na minha vida. E tem sido bom estar com eles novamente. Inventamos programas para celebrar a alegria de estar junto. E a gente come, e a gente bebe e a gente ri.

Uma amiga me disse, certa vez, que temos que ter várias turmas quando vamos envelhecendo.
Amigas para trocar sem cobrar. Para ouvir ou falar. Jogar conversa fora. Desafinar desesperadamente na aula de canto. Beber chopp e vinho e filosofar em mesas de boteco. Amigas são tesouros, bens valiosos que recebemos de presente e que nos acrescentam significado e significância.