sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A Primeira Vez

" Um bom começo é a metade"
                            Aristóteles


Comecei a escrever como milhões de pessoas fazem todos os dias, porém em uma idade em que estamos nos aposentando.
Não sei das motivações das outras, a minha foi a de me arrumar por dentro. Não tenho disciplina, hora marcada, nada disso, mas tenho método. Também não pensei que o que eu estava dizendo teria importância ou ressonância.

Mudei de casa mais vezes do que dá para contar nos dedos e, em todas elas, a primeira preocupação era descobrir o lado em que o sol batia. A última em que morei não recebia luz direta, os prédios ao derredor impediam a sua entrada.
Todas as mudanças foram em função de demandas da família que formei, por vontade e escolha.  Agora moro na praia e não tenho pretensão de me mudar.
Aqui, acompanho as construções que brotam no meu entorno e vigio - impotente - os prédios a subir cada vez mais altos e o sol a ficar cada vez mais escasso.

Em todas as moradas construí cotidianos. Rotinas são partes dos hábitos que nos tornam quem somos. Coisas como tomar café da manhã com leite ou sem, comer pão com manteiga ou não...

Cotidiano é diferente.
Começo pelo supermercado mais próximo, farmácia e banco. Tenho uma amiga que diz que eu adoro ir ao banco. Brinco com ela e digo que vou administrar o dinheiro que não tenho. À partir desse reconhecimento, dos novos trajetos, dos caminhos mais curtos, ajeito o cotidiano. E aprendo a ser maleável.

Agora aparecem necessidades novas.
Com a aceitação que o livro está tendo, surgem pedidos que, se não mudam a rotina, alteram e expandem o meu cotidiano.
Trata-se de uma inusitada " Primeira Vez."
Como é a primeira vez que escrevo um livro é a primeira vez que dou autógrafos, que participo de lançamentos, que sou convidada para rodas de Bate Papos.
E que recebo gratificantes depoimentos de identificação com os textos que escrevo.

Com o repertório que acumulei (Ah! Marilena querida, você não faz ideia do quanto me ajuda), vejo o percorrido com a temperança que os anos me deram e não tenho nenhuma dúvida de que tudo valeu a pena e valeu muito.

Então, neste fevereiro que marca quarenta e cinco anos em que segui a rota mais consistente da minha vida, constato, feliz, que debuto em um ofício novo! Que as demandas que surgem são compromissos de trabalho, que a trilha virou caminho e, como disse uma amiga que encontrei na praia que "a gente tem costume de colocar tempo nas coisas..."
O que é pra ser, será.