domingo, 30 de setembro de 2018

Versos Soltos




Se ele fosse até o Peru e me mandasse dinheiro
Para eu ir a Machu Picchu bem no alto de um camelo?

E se eu ficasse modelo de anunciar margarina
Largaria da manteiga tão presente na rotina?

E se eu estivesse só toda plena dos meus eus
Deixaria que ele entrasse bagunçando o que é meu?

E se eu saísse pra rua e o céu anunciasse chuva
Iria do mesmo jeito sem pegar nem uma blusa?

E se eu dispensasse o carro para andar de bicicleta
Desistia de ir mais longe pra ficar na linha reta?

E se um dia ele voltasse como não tivesse ido
Deixaria que ele entrasse revolvendo o conseguido?

A questão é a seguinte, quanto vale o meu querer?
O meu querer tem o preço que só eu posso saber.

E porque hoje é domingo dia bom de versejar
Aproveito o meu tempo pra aprender a perguntar.







terça-feira, 25 de setembro de 2018

Minha Amiga Me Ligou!

"Aprendi  com as primaveras a deixar-me
   cortar e a voltar sempre inteira."
                               Cecília Meireles


A semana começou animada! Dois eventos parecidos à partir da terça feira. O primeiro foi a festa de apresentação das madrinhas de um Clube de Serviço Internacional, tradicionalíssimo. A função delas era somar esforços para a arrecadação de fundos para as campanhas sociais do Clube. A atual pretende custear exames e óculos às crianças carentes de visão e de recursos. Minha amiga era uma delas e convidou-nos para acompanhá-la.

Fomos recebidas com espumante e fotógrafos.Toalhas brancas e flores frescas antecipavam a primavera e conferiam cor e beleza ao salão do evento. Estandes exibiam produtos do forte comércio da região e atraiam o olhar como um imã. Jovens modelos apresentaram um desfile com a moda primavera/verão e a dúvida era saber se as moças ornavam as roupas ou se as roupas ornavam as moças. Um grupo de folclore russo apresentou um show de danças típicas. Os trajes, um espetáculo à parte.

Depois desfilaram as madrinhas! Um ajuste no olhar me permitiu enxergar a graça, a alegria tímida daquelas mulheres que tiveram poucas ocasiões de desfilar.. Minha amiga não deixou por menos. Adentrou a passarela de vestido pink curto e esvoaçante e, com um sorriso incandescente ofuscou os mil brilhos do  Stiletto que exibia com competência. O sorriso, de orelha a orelha, ofuscou o sapato!
Ela - só alegria - mandava o recado: Olha eu, estou aqui!
Lanche farto e esmerado fechou o evento.

No outro dia, outro lanche, também beneficente,  mais descontraído, num Hotel à beira do mar da Penha, outra praia linda no litoral de S.C. "abençoado por Deus e bonito por natureza."
Saímos cedo para aproveitar a tarde inteira. Nos perdemos assim que chegamos! Minha amiga sabia que o hotel tinha pedra no nome e decidimos perguntar, não sem antes criticar "os homens que morrem, mas não perguntam".

No primeiro lugar em que paramos perguntamos a um morador se sabia onde era o" Hotel Recanto das Pedras"  ao que ele prontamente respondeu, Passei lá de manhã ! Vocês tem que voltar e seguir toda a vida, toda a vida e lá adiante se informar de novo. Depois de uns 8 Km, o GPS deu sinal de vida e nos levou até a Pousada Recanto das Pedras, fechada, parece que não funciona no inverno. Retornamos para a rua principal e uma moradora nos informou que  o Hotel "Pedra da Ilha" ficava logo depois do "Alírio", é só quebrar a esquerda. e ir reto toda a vida, toda a vida que chegaríamos lá. Não nos ocorreu perguntar o que/quem era o Alírio e seguimos adiante. Paramos de novo e perguntamos a dois rapazes se sabiam do Hotel Ilha de Pedra que tem suítes temáticas, tipo da África, do Havaí, e que ficava depois do Olímpio. Os rapazes nos olharam como se estivéssemos loucas e  hã?  A gente não sabe.

Não encontramos o Alírio nem o Olímpio e nem o Hotel .Acertadamente concluímos que perguntar nem sempre dá certo, ainda mais quando não se tem certeza do que se pergunta. Eis que surge um Posto da Polícia Militar à direita!  Minha amiga desceu do carro e, maltratando o salto agulha  na brita que cobria o patio voltou com o policial que nos informou:
O  Hotel " Pedra da Ilha" fica há uns 8 km em linha reta. Agradecemos  e seguimos. Depois de uns  quatro km o  GPS  ressuscitou e nos informou que estávamos a cinco km do destino e nos orientou até o fim. Estacionamos, aliviadíssimas! O gerente saiu do Hotel e nos avisou que o estacionamento reservado ao evento era o segundo, à partir daquele. Erramos a entrada. Coisa pouca, corrigida no ato.

O lanche estava em plena ebulição! Chegamos na hora do café, farto como sempre, e participamos do sorteio de brindes. Ganhei uma roupinha de bebê, que dei pra ela cujo neto está para chegar ainda neste setembro. Benvindo, menino! Você terá uma avó que, no fim das contas, acerta os caminhos... A gente avança e às vezes recua, em tantas retorna e refaz a rota, em muitas se perde e, nesse vai e vem, acaba chegando. Que chato seria viver em linha reta, sem ter a experiência de ver melhor e de sentir diferente a mesma trilha...

Ela acabou de me ligar. Avisou que tem jantar amanhã  na casa de outra amiga, sabe aquela, que mora naquela rua que tem uma árvore bem grande em frente ao prédio?
Vamos de uber, só falta saber o nome da rua e o número do prédio.
A responsabilidade de seguir reto, reto, toda a vida, é do motorista...


sábado, 15 de setembro de 2018

Encantamentos Possíveis

"Batidas na porta da frente, é o tempo
  Eu bebo um pouquinho pra ter argumento"
                                                  Nana Caymmi
                                           
Li um texto, creditado ao jornalista Alexandre Garcia, em que ele conta do encantamento que sentiu
quando, menino, viajou de avião pela primeira vez. Falou da emoção da decolagem e de como ficou maravilhado no momento em que, atravessadas as nuvens, o sol surgiu no horizonte. Depois de centenas de voos e muitos anos passados, só o que ele queria era descer do avião o mais rápido possível. Nunca mais sentou na janela ou olhou por ela. Não queria perder tempo e levantava assim que o desembarque era permitido. Contou que, num último voo de Curitiba para São Paulo - sexta - feira, - ficou com o único assento vago, atrás, na janela. Tarde chuvosa e, passadas as nuvens, o céu surgiu azul e o sol, quase se pondo, lhe trouxe à lembrança o menino que tinha sido e reviveu o mesmo encantamento do  primeiro voo. O texto continua com reflexões sobre como ele vem levando a vida...

Lembrei de Manoel de Barros, o poeta  que mistura o olho que vê com o olho da alma e, como nenhum outro, fala da imensidão das coisas pequenas, dos encantamentos possíveis no corriqueiro dos dias. Gostei do texto porque ando atenta "às alegrias pequenas" que acontecem várias vezes num mesmo dia. É uma decisão racional. Sei de mim e faço o que estiver ao meu alcance para ter um bom dia. Como aprendi que muita coisa não é da minha conta, consigo me situar nas bordas do que não me cabe. Resisto a dar a opinião que não me foi solicitada. Requer treino, exige atenção, mas se torna um hábito, um costume bom.

Moro na praia e me concedo a alegria de olhar o mar, todos os dias. Desde criança sou fascinada pelo mar. Morar sozinha é novidade em minha vida e, de repente, fiquei disponível pra mim. Tem sido compensador.

Aprendi que o tempo não é posse. Não "perdemos " e nem "ganhamos" tempo. Passamos por ele e vamos mudando e nos ajeitando e abrindo caminhos como água entre obstáculos..
Nos moldando, fluímos...
De nosso, mesmo, só temos as decisões tomadas e suas incontornáveis consequências - sempre - dentro dos limites das escolhas possíveis.
A vida acontece nas brechas, nas sobras, em tudo que -  equivocados - pensamos ser "perda de tempo".

Mas sempre é nossa a decisão de escolher como lidar com os fatos.