Eu bebo um pouquinho pra ter argumento"
Nana Caymmi
Li um texto, creditado ao jornalista Alexandre Garcia, em que ele conta do encantamento que sentiu
quando, menino, viajou de avião pela primeira vez. Falou da emoção da decolagem e de como ficou maravilhado no momento em que, atravessadas as nuvens, o sol surgiu no horizonte. Depois de centenas de voos e muitos anos passados, só o que ele queria era descer do avião o mais rápido possível. Nunca mais sentou na janela ou olhou por ela. Não queria perder tempo e levantava assim que o desembarque era permitido. Contou que, num último voo de Curitiba para São Paulo - sexta - feira, - ficou com o único assento vago, atrás, na janela. Tarde chuvosa e, passadas as nuvens, o céu surgiu azul e o sol, quase se pondo, lhe trouxe à lembrança o menino que tinha sido e reviveu o mesmo encantamento do primeiro voo. O texto continua com reflexões sobre como ele vem levando a vida...
Lembrei de Manoel de Barros, o poeta que mistura o olho que vê com o olho da alma e, como nenhum outro, fala da imensidão das coisas pequenas, dos encantamentos possíveis no corriqueiro dos dias. Gostei do texto porque ando atenta "às alegrias pequenas" que acontecem várias vezes num mesmo dia. É uma decisão racional. Sei de mim e faço o que estiver ao meu alcance para ter um bom dia. Como aprendi que muita coisa não é da minha conta, consigo me situar nas bordas do que não me cabe. Resisto a dar a opinião que não me foi solicitada. Requer treino, exige atenção, mas se torna um hábito, um costume bom.
Moro na praia e me concedo a alegria de olhar o mar, todos os dias. Desde criança sou fascinada pelo mar. Morar sozinha é novidade em minha vida e, de repente, fiquei disponível pra mim. Tem sido compensador.
Aprendi que o tempo não é posse. Não "perdemos " e nem "ganhamos" tempo. Passamos por ele e vamos mudando e nos ajeitando e abrindo caminhos como água entre obstáculos..
Nos moldando, fluímos...
De nosso, mesmo, só temos as decisões tomadas e suas incontornáveis consequências - sempre - dentro dos limites das escolhas possíveis.
A vida acontece nas brechas, nas sobras, em tudo que - equivocados - pensamos ser "perda de tempo".
Mas sempre é nossa a decisão de escolher como lidar com os fatos.
Sempre uma lição.
ResponderExcluirFalo de vivências pessoais, particulares e, compartilhá-las, reforça o conhecimento que tenho de mim mesma. Não acredito que sejam lições para outras pessoas.
ExcluirNão sei quantas vezes já li esse texto. Cada frase uma lição, uma lembrança.
ResponderExcluirCada qual com o seu repertório e é com ele que nos construímos.
ExcluirMinha amiga
ResponderExcluirSó quem tem sensibidade escreve como vc.
Sua fã de "carteirinha".
N.I.
Obrigada, minha amiga! Fico honrada com a sua atenção.
Excluir