quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Egoísmo e Humildade

Aprender a se colocar em primeiro lugar não é egoísmo, nem orgulho.
É Amor Próprio.
Charles Chaplin

Não sei quanto o governo economizou por nos dar uma hora a mais de luz natural, mas o verão fez questão de aproveitar quase nada. Segunda feira, já com os relógios nos conformes, ele apareceu todo exibido e com trovoadas de fim de tarde. Pra mim, valeu. Sou fã de horário de verão. Como uma coisa puxa outra lembrei de um dia desses na praia, onde um bando de maduros discutíamos a própria realidade e o que achamos que é viver bem, com as gentilezas que nos permitirmos.
A conclusão geral é que necessitamos ser egoístas, palavra desvirtuada pelo mau uso que se faz dela. Repare nos pecados capitais criados pela igreja católica para facilitar seu trabalho: Gula, Avareza, Luxúria, Ira, Inveja, Preguiça, Vaidade. Profundamente humanos e universais, nenhum deles é sinônimo de egoísmo. Do "Conhece-te a ti mesmo" dos gregos  até o Amai ao próximo como a ti mesmo" que Jesus deixou como um Mandamento Novo, é essencial olhar para dentro e saber de si.

Queremos " pouco" nessas alturas - saúde boa, amigos perto, amores certos e dinheiro - o suficiente para não precisar lembrar dele. E nos divertir. Gente vivida gosta de festa, de riso, de troca de afetos.

Filhos criados, os amamos sem medidas, mas são deles os caminhos que escolheram, e deles os percalços da jornada. De netos, penso que são a melhor definição do que seja eternidade, mas não nos pertencem.
Continuamos a ser "um lugar para voltar" com as portas do coração abertas de par em par. 
Somos donos de nós, e é a quem devemos explicações e paciência. Está aí uma coisa que os jovens não sabem. Precisamos ter uma enorme paciência conosco porque ficamos em nós as 24 horas do dia. Pensa que é fácil? Conhecemos bem os nossos limites.

Aprendemos, ou deveríamos ter aprendido, a dizer não ao que nos fere ou desrespeita  porque temos coragem de romper paradigmas.
Chegados até aqui, voltamos a ter certezas. Poucas, mas fundamentais.


     










segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Na Praia

"Cuendo calienta el sol
  aqui en la playa
  Siento tu cuerpo vibrar cerca de mí.."
                            Hermanos Rigual *

Vizinhos de areia mudam todos os dias e, se nos quedamos ao sol o dia inteiro, variam no decorrer do período. Gosto de observar essa intermitência de quem chega e de quem sai e perceber as alternâncias da vizinhança.
No guarda-sol ao lado, ouço a resposta da mulher ao vendedor da mega sena acumulada.  "A gente não quer moço, a gente é rico". Chega o haitiano, oferece pau de selfie, e a resposta é " a gente não quer moço, a gente já tem de todas as cores"... alguma dúvida? Suponho que seja para combinar com a capinha do celular.  O som, pequeno e potente, propaga:
 Rapariga, não! Rapariga, não!
 Lava a sua boca com água e sabão!
 Depois piora:
 Faço devagar, faço devagar,
 Faço devagar que é pra ela se apaixonar.

Como diz minha filha, é o cerumano, mãe!

Do outro lado, o pessoal comenta com o vendedor de sanduíche natural que o céu escurece de repente. O moço, com ares de quem sabe o que diz, olha o pretume que se aproxima do continente, depois mira o pretume que vem do mar e determina: eeee...  essa manchinha que vem de lá e se achega da manchinha que vem de cá? nãao, nada de chuva, fique susse!
Eu, que já  juntava cadeira e canga decidi confiar no moço, roupa de marinheiro, com quepe de âncora e com anos de praia. Pode não ter experiência em vagas e ventos em alto mar, pois isso é assunto para marinheiros de outra cepa, mas de claros e escuros na areia ele entende. Fiquei e acertei.  O céu foi clareando, clareando, despontou um azul lá no horizonte, os vizinhos ricos recolheram som e selfie e se foram e a praia clareou também, na areia.

Li um pouco, cochilei outro tanto e quando cheguei à fila do chuveiro para tirar as areias de mim, o moço a minha frente cedeu-me a vez, segurou minhas tralhas e  acionou o chuveiro.

Digo eu pra minha filha, é o ser humano, filha!

Ganhei a crônica - que saiu inteira - e ganhei o dia.

* Consta que a música é do nicaraguense Rafael Gaston Perez que a vendeu ao trio cubano que fez um sucesso extraordinário com ela. A letra original era... quando calienta el sol en Masapacha, cidade litorânea distante 60 km de Manágua, capital da Nicarágua. 
Fonte: El Blog del bolero: Oswaldo Paez