"Cuendo calienta el sol
aqui en la playa
Siento tu cuerpo vibrar cerca de mí.."
Hermanos Rigual *
Vizinhos de areia mudam todos os dias e, se nos quedamos ao sol o dia inteiro, variam no decorrer do período. Gosto de observar essa intermitência de quem chega e de quem sai e perceber as alternâncias da vizinhança.
No guarda-sol ao lado, ouço a resposta da mulher ao vendedor da mega sena acumulada. "A gente não quer moço, a gente é rico". Chega o haitiano, oferece pau de selfie, e a resposta é " a gente não quer moço, a gente já tem de todas as cores"... alguma dúvida? Suponho que seja para combinar com a capinha do celular. O som, pequeno e potente, propaga:
Rapariga, não! Rapariga, não!
Lava a sua boca com água e sabão!
Depois piora:
Faço devagar, faço devagar,
Faço devagar que é pra ela se apaixonar.
Como diz minha filha, é o cerumano, mãe!
Do outro lado, o pessoal comenta com o vendedor de sanduíche natural que o céu escurece de repente. O moço, com ares de quem sabe o que diz, olha o pretume que se aproxima do continente, depois mira o pretume que vem do mar e determina: eeee... essa manchinha que vem de lá e se achega da manchinha que vem de cá? nãao, nada de chuva, fique susse!
Eu, que já juntava cadeira e canga decidi confiar no moço, roupa de marinheiro, com quepe de âncora e com anos de praia. Pode não ter experiência em vagas e ventos em alto mar, pois isso é assunto para marinheiros de outra cepa, mas de claros e escuros na areia ele entende. Fiquei e acertei. O céu foi clareando, clareando, despontou um azul lá no horizonte, os vizinhos ricos recolheram som e selfie e se foram e a praia clareou também, na areia.
Li um pouco, cochilei outro tanto e quando cheguei à fila do chuveiro para tirar as areias de mim, o moço a minha frente cedeu-me a vez, segurou minhas tralhas e acionou o chuveiro.
Digo eu pra minha filha, é o ser humano, filha!
Ganhei a crônica - que saiu inteira - e ganhei o dia.
* Consta que a música é do nicaraguense Rafael Gaston Perez que a vendeu ao trio cubano que fez um sucesso extraordinário com ela. A letra original era... quando calienta el sol en Masapacha, cidade litorânea distante 60 km de Manágua, capital da Nicarágua.
Fonte: El Blog del bolero: Oswaldo Paez
Ouvir a conversar ao lado é irresistível. Um palpite as vezes.
ResponderExcluirObservar os comportamentos humanos é matéria prima de quem pretende escrever. Do mais humilde escrevinhador - onde me incluo - até os maiores escritores de todos os tempos.
ExcluirE esse texto?
ResponderExcluirÉ de escritores de outra cepa.
Você está se revelando uma pintora... com uma paleta de cores singular!
E a música?
Doces lembranças.
Parabéns!
Lembra.... es tu palpitar
Excluirtu recuerdo
mi locura
mi delirio
me estremezco oh,oh,oh
cuando calienta el sol...
bem melhor do que "faço devagar pra ela se apaixonar", não?Por quê o óbvio é tão difícil de enxergar?
Você sabe?
Cada qual com seu repertório. Do nada, nada vem.
ResponderExcluirMas, sendo assim, nada muda. Cada um fica preso na sua limitação, sempre.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre com muito humor!
ResponderExcluirN.I.
E isso. Rir é um aprendizado difícil, mas indispensável!
ResponderExcluirCd dia melhor!
ResponderExcluirN.I.