Perco a sandália e
recupero o passo.
Na fila do caixa, quase na minha vez, me vi descalça!
Jesus, clamei! Cadê as minhas havaianas? Me arrependi no ato. Instantaneamente todo o entorno olhou de mim pra eles - os meus pés no chão - que, diga-se de passagem, deveria ter tido a caridade de se abrir para que eu desaparecesse.
Uns me olhavam de jeito esquisito, outros balançavam a cabeça, apiedados, e sussurravam o nome do alemão. Sabe como é. Ouvir, examinar e investigar para só depois dar o diagnóstico é coisa de médico. Leigo sabe! Me olhavam com cara de dó. A senhora está bem, onde mora? Tem família? Quer que eu a acompanhe? Fiquei muda, enquanto pensava em como sair dali sem que nenhuma alma bondosa me acompanhasse.
Supermercado cuja propaganda é ser inclusivo é, de fato, uma loja diferenciada. Corredores largos e gôndolas baixas fazem todo mundo se sentir magro e alto. Uma beleza! Da porta de entrada se enxerga o fundo da loja. Nos corredores circulam - com conforto e sem atropelos - pessoas com carrinhos de compras, cadeirantes, crianças empurrando um carrinho com uma espécie de mastro com uma bandeirinha na ponta que pode ser avistada de qualquer lugar. Ninguém perde a criançada, nem que queira.Tudo o que eu ansiava era estar num shopping em véspera de natal e desaparecer na multidão.
Reagi! Agradeci a atenção de todos, balbuciei qualquer coisa sobre Setor de Achados e Perdidos, o que se mostrou uma ideia excelente, porque as pessoas se empolgaram com as maravilhas do supermercado e esqueceram de mim. Larguei as compras e me enfiei loja a dentro. Imagina eu chegar no Setor (não tem e nem caberia ter) e perguntar se haviam, por acaso, encontrado um par de havaianas branquinhas circulando sozinhas por aí?
Fiz cara de paisagem e tentei refazer o trajeto anterior até que avistei, sob uma mesa da lanchonete, o par lado a lado, que alguém havia colocado ali. Como, me perguntei, se eu não estive na lanchonete? Daí me lembrei! A padaria fica ao lado e o pão ia demorar mais "dois minutinhos", tempo padrão de padarias em todo os lugares. Não importa há hora que se chegue, sempre faltam dois minutinhos para sair o pão quentinho. Me distraí, o tempo do pão não é o mesmo do relógio e larguei a sandália entre um tempo e outro. Como a fila demora, mas sempre anda, em todos os lugares e analogias possíveis, fui andando e a sandália não me acompanhou.
Refiz as compras e tudo acabou bem. Na saída encontrei um casal de amigos e fiquei aliviada por te-los encontrado na segunda saída, não na primeira. Não sei como explicaria a alguém que conheço o fato de estar descalça no supermercado. Acho que só contando a história inteira, como faço agora. Ficou tão lógico! Não?
Cada vez melhor.
ResponderExcluir"o tempo do pão não é o mesmo do relógio e larguei a sandália entre um tempo e outro. "
Até o tempo é uma ilusão...
ExcluirMuito bom! Quando era universitária, fui em uma festa no DANC ( Diretorio de Medicina da UFPr), tirei o tênis, dancei feito uma louca e quando acabou a festa não o encontrei. Alguém se apossou dele. Voltei para casa descalça. Você teve melhor sorte :)
ResponderExcluirVocê também teve, tanto que lembra até hoje. Beijo, Glorinha.
ExcluirUm caso corriqueiro torna-se um acontecimento engraçado e de leitura agradável. Só mesmo uma escritora ''porreta'' tem esta habilidade e talento. Salve amiga!!!! Bjs. N.I.
ResponderExcluirNão me limito mais a esquecer sandálias nas casas das amigas, deixo-as nos corredores do supermercado.
ExcluirAmei.... 😘
ResponderExcluirQue bom, Marina!
ExcluirAmei o texto!! 😘
ResponderExcluirGostou mesmo! Saiu duas vezes! Obrigada, querida.
ExcluirÓtimo texto, como sempre.
ResponderExcluirEsqueceu de relatar que esse tal supermercado, que é mesmo sensacional, está em uma cidade de praia, onde as pessoas deveriam estar acostumadas com pés descalços.
Eu te libero da metade do constrangimento.
Beijo.
Rosane querida, mesmo aqui, pés desnudos, só na areia!
ResponderExcluirO constrangimento não foi nada. Difícil foi escapar da oferta de ajuda.