"Navegar é preciso
Viver não é preciso.
F. Pessoa"
Fernando Pessoa popularizou os versos cuja autoria é creditada ao general romano Pompeu, por volta de 70 a.C. Com a intenção de incentivar os marinheiros, apavorados, a levar uma carga de trigo a Roma durante a guerra, o general bradava "Navigare necesse, vivere non est necesse!"
Eles temiam a imprecisão dos barcos e a precisão do inimigo, mas Pompeu era o temor mais próximo. Claro que ele ficava dando tchauzinho do cais. Jogo duro, o tal Pompeu. Pensando bem, as coisas continuam mais ou menos assim, até hoje. Manda quem pode e obedece quem não tem escolha. No século XIV, o poeta italiano Petrarca mudou a expressão para "Navegar é preciso, viver não é preciso." Fernando Pessoa escreveu seu poema a partir destes versos, destacando que eram lema dos navegadores antigos. Continuam atuais há mais de 2000 anos porque não têm tempo, nem lugar, nem hora - só sentimento. Poesia é assim, como uma luva, se ajusta à alma de cada um.
Aqui, ilustram a primeira vez - no mar - de uma moça que eu conheço.
Veio de mudança. Mal arriou "mala e cuia" no chão da sala, recebeu uma amiga querida que a encheu de mimos, e com a qual foi passar o Réveillon no veleiro de amigos comuns, onde foi conferir a "precisão" do que é navegar. Narrativas de marear não faltaram e sei que ela temia dar vexame, incomodar os anfitriões, coisa e tal... pois não há de ver que a moça entrou no barco e se sentiu em terra firme? Velejavam - barco adernado, vela estufada - e ela parecia pisar chão de terra batida. E as vagas, então? E dormir? A cabine lhe pareceu um latifúndio, dormiu o sono dos justos e acordou revigorada. Certo que confiou na dupla experiente que comandava o barco com a presteza de quem sabe o que faz. Reconheceu que a confiança exclui quaisquer temores e que é a desconfiança que nos derruba, mesmo que estejamos presos ao chão. Além disso estavam todos, literalmente, no mesmo barco. E também tem outra coisa, ela se trouxe para ancorar na casa da praia e o barco é uma casa que se leva junto, então foi um reconhecimento imediato.
Passando os olhos por textos que escrevi no ano passado - depois de ter escrito este - notei que usei esses versos para abrir o texto do dia 08/01/2017. Cabiam lá e cabem aqui.
É a ela, à moça que velejou pela primeira vez, que dedico texto e versos, com votos de que continue a sentir encantamento e entusiasmo pela maravilhosa imprecisão de viver.
E que não deixe de ser curiosa.
Verdade...todos estamos nesye grande barco que é a vida, navegando de um lugar para o outro, curiosos com o que vamos encontrar em cada porto.
ResponderExcluirEsperançando...
ExcluirFeliz Ano Novo, querida!
Senti o soprar do vento e a tranquilidade do sono.
ResponderExcluirN.I.
Que bom, a ideia é esta - me fazer entender.
ExcluirSaudades de você.
Obrigada, que bom que gostou.
ResponderExcluirsenti o vento soprar no rosto e a felicidade de estar livre querida e segura entre amigos!
ResponderExcluirparabéns amiga 2018 inicia por mares tranquilos!
Saudades
E não é assim?? Confiança inspira segurança. Ano de boas águas pra vc também!
ExcluirSim, é uma moça feita e refeita.
ResponderExcluirQue navega em Pessoa e pronta para navegar em tantos outros mares... .
Bonito texto!
E viver não é isso? Refazer o desfeito a cada dia? E mergulhar, de cabeça e com coragem no que vale muito a pena.
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