sábado, 6 de janeiro de 2018

"A Tardinha Cai."

"Navegar é preciso
 Viver não é preciso.
                 F. Pessoa"

 Fernando Pessoa popularizou os versos cuja autoria é creditada ao general romano Pompeu, por volta de 70 a.C. Com a intenção de incentivar os marinheiros, apavorados, a levar uma carga de trigo a Roma durante a guerra, o general bradava "Navigare necesse, vivere non est necesse!"
Eles temiam a imprecisão dos barcos e a precisão do inimigo, mas Pompeu era o temor mais próximo. Claro que ele ficava dando tchauzinho do cais. Jogo duro, o tal Pompeu. Pensando bem, as coisas continuam mais ou menos assim, até hoje. Manda quem pode e obedece quem não tem escolha. No século XIV, o poeta italiano Petrarca mudou a expressão para "Navegar é preciso, viver não é preciso." Fernando Pessoa escreveu seu poema a partir destes versos, destacando que eram lema dos navegadores antigos. Continuam atuais há mais de 2000 anos porque não têm tempo, nem lugar, nem hora - só sentimento. Poesia é assim, como uma luva, se ajusta à alma de cada um.

Aqui, ilustram a primeira vez  - no mar - de uma moça que eu conheço.

Veio de mudança. Mal arriou "mala e cuia" no chão da sala, recebeu uma amiga querida que a encheu de mimos, e com a qual foi passar o Réveillon no veleiro de amigos comuns, onde foi conferir a "precisão" do que é navegar. Narrativas de marear não faltaram e sei que ela temia dar vexame, incomodar os anfitriões, coisa e tal... pois não há de ver que a moça entrou no barco e se sentiu em terra firme? Velejavam - barco adernado, vela estufada - e ela parecia pisar chão de terra batida. E as vagas, então?  E dormir? A cabine lhe pareceu um latifúndio, dormiu o sono dos justos e acordou revigorada. Certo que confiou na dupla experiente que comandava o barco com a presteza de quem sabe o que faz. Reconheceu que a confiança exclui quaisquer temores e que é a desconfiança que nos derruba, mesmo que estejamos presos ao chão. Além disso estavam todos, literalmente, no mesmo barco. E também tem outra coisa, ela se trouxe para ancorar na casa da praia e o barco é uma casa que se leva junto, então foi um reconhecimento imediato.

Passando os olhos por textos que escrevi no ano passado - depois de ter escrito este - notei que usei esses versos para abrir o texto do dia 08/01/2017.  Cabiam lá e cabem aqui.


É a ela, à moça que velejou pela primeira vez, que dedico texto e versos, com votos de que continue a sentir encantamento e entusiasmo pela maravilhosa imprecisão de viver.
E que não deixe de ser curiosa.








9 comentários:

  1. Verdade...todos estamos nesye grande barco que é a vida, navegando de um lugar para o outro, curiosos com o que vamos encontrar em cada porto.

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  2. Senti o soprar do vento e a tranquilidade do sono.
    N.I.

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    1. Que bom, a ideia é esta - me fazer entender.
      Saudades de você.

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  3. senti o vento soprar no rosto e a felicidade de estar livre querida e segura entre amigos!
    parabéns amiga 2018 inicia por mares tranquilos!
    Saudades

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    1. E não é assim?? Confiança inspira segurança. Ano de boas águas pra vc também!

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  4. Sim, é uma moça feita e refeita.
    Que navega em Pessoa e pronta para navegar em tantos outros mares... .
    Bonito texto!

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  5. E viver não é isso? Refazer o desfeito a cada dia? E mergulhar, de cabeça e com coragem no que vale muito a pena.

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