quarta-feira, 3 de maio de 2017

São Roupas Passadas....

"Escrever é ter a companhia
 do outro de nós que escreve."
                    Vergílio Ferreira

Ele se apresentou como "Apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior"... e se estabeleceu e contribuiu enormemente para o brilho e a importância da nossa música popular. Nos deixou, em 30 de abril, e já faz falta. Foi imprescindível nas playlist  da juventude dos anos 60/70 - quando gravávamos fitas cassetes que rebobinávamos com o auxílio de uma caneta Bic  e sabíamos todas as letras de cor.  Ainda sabemos. Belchior  percebeu, muito jovem, que o "passado é uma roupa que não nos serve mais"... que Elis Regina cantava lindamente.

Recebi o pedido gentil para "fazer parte de suas amizades" de uma leitora de Ribeirão Preto - Fátima - com a alegação de que "gosto muito do que você escreve", e trocamos informações onde ela diz que chegou aos meus escritos através da irmã  - Aparecida - e que "que fico feliz com tudo o que você posta". E como a felicidade é sempre generosa, fiquei feliz também. Nos conhecemos, dona Aparecida e eu, em um bazar de roupas usadas organizado pelas famílias dos cantores infanto-juvenis do Papo Coral  na Paidéia Escola de Música, cujo objetivo foi o de angariar fundos para viabilizar a aceitação do convite recebido da Câmara de Trento - na Itália - para que o Coral participe de um intercâmbio cultural no mês de junho. O neto dela e a minha neta fazem parte do Grupo.

Nestes tempos de sustentabilidade necessária, bazares de roupas usadas são um sucesso e proliferam em todo lugar. A ideia é boa e uma boa ideia é sempre um bom começo. Abrimos espaço em armários atulhados, nos livramos de coisas que não nos servem e que servirão para outra pessoa. Remanejamos e reciclamos. Arejamos casa e armário. É um movimento de vai e vem, porque também encontramos alguma pechincha que é a nossa cara. 

Acredito que, quando Belchior  compara os sentimentos que trazemos a uma roupa que não nos serve mais, ele nos convida a olhar para dentro para identificar o que nos atrapalha. Tem sentimentos que ficaram puídos e gastos e não suportam mais remendo. Tem aquele que nunca serviu direito, e sempre foi um desconforto usá-lo. Tem até um que usamos por empréstimo e passa da hora de devolver.
Fica o que é bom e trazemos conosco. Somos acumuladores, mas só de viver.














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