"O único modo de encontrar um
amigo é ser um."
Fernando Pessoa
Dias de lavar as roupas e limpar os sapatos que trouxemos da bela e empoeirada Lisboa, por óbvio e, também, para que fiquem de par com a alma que voltou lavada e arejada. O que me remete à D. Carlota Joaquina que, ao deixar o Brasil - que tanto detestava - sacudiu os sapatos ao embarcar no navio que a levaria de volta à Lisboa porque "do Brasil não quero levar nem o pó!" Não é o caso, aqui.
Mais importante das colônias do Portugal navegador e descobridor, temos - para o bem e para o mal -a nossa história entrelaçada por mais de três séculos. É interessante ver a figura do D. Pedro I - para eles D. Pedro IV - com o olhar do outro. Um bom exercício para entender pontos de vista diferentes de um mesmo fato. As últimas colônias, "em África" se emanciparam só na segunda metade do séc. XX.
A estabilização dos seus limites em 1.297 torna Portugal o país com as fronteiras mais antigas da Europa e, se depender do turismo para lhe gerar divisas está claramente bem servido. Turistas da Comunidade Européia lotam hotéis e museus. Sem falar nos japoneses e os chineses - estes em enxames. E nós.
Meu interesse pelo modo como as pessoas se expressam foi deliciosamente recompensado em Portugal... Se, como nos disse um taxista "os brasileiros falam português com samba", eu digo que os portugueses falam português com poesia. E não é pura poesia nos indicarem um restaurante requintado onde os guardanapos "são dobrados em pomba" e endereço é "dar a morada?" E no açougue escolhemos o nosso talho de eleição? E onde "um empregado de mesa, que está ali a nos indicar a melhor escolha" declara que nós, brasileiros e portugueses, falamos a "língua de Camões?" E que escrevemos igual, mas a pronuncia de lá é que é a correta, por castiça? E, elegantemente, fala na segunda pessoa do plural?
E os vinhos e os doces e o Douro e o Tejo? - largo como o mar - com o qual se junta lá pelos lados da Torre de Belém, bem pertinho da famosa confeitaria que produz os maravilhosos Pastéis de Belém, situada na rua do mesmo nome, número 84, desde 1837.
E o bacalhau, que nos motivou a ir lá.
Para a minha avó paterna, nascida Honorina de Sampaio Barros, de quem - desconfio - trago em mim estes momentos de devaneios...
Delicia de texto , Clévia!
ResponderExcluirObrigada, é delicioso ouvir o português deles, os portugueses.
ExcluirLindo texto.
ResponderExcluirObrigada, escrevi com alegria.
ExcluirCarlota Joaquina era espanhola. Essa terra imensa chamada Brasil não lhe dizia respeito. Queria ser princesa de alguma colônia espanhola. Que bom que não levou nada desta terra. Mas D. Pedro II sim. Levou o Brasil consigo. E deixou muito dele. Portugal e Brasil se tornaram inseparáveis. Adorei o texto com as impressões perspicazes dessa atenta escritora.
ResponderExcluirPois, pois, Aninha, mas ela podia ter sido mais gentil com o Brasil, não acha?
ExcluirComo é bom ver Portugal através de seus olhos Clévia. Maravilha.
ResponderExcluirComo tudo na vida, cada um de nós tem um olhar particular. Fico feliz por você ter gostado Vera/Frederico
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