segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Duas Historinhas Sobre Sorte

 

O Porquinho Cor de Rosa

Assino o Rascunho, jornal mensal que publica literatura de qualidade. Recebo o exemplar pelo correio. Guardo todos, desde que ganhei a assinatura de presente de uma amiga querida e continuei a assinar assim que aquela venceu. Gosto de degustá-lo, sentada na sacada do meu apê. Curto a capa e descubro o artista. Começo pelo fim, dando uma espiada no título do texto "Sujeito Oculto", coluna do editor, antecipando um deleite garantido. Leio, então, a coluna de Josué Castello, lá na página cinco. Depois folheio e releio e vou e volto, postergando o impacto de, finalmente, ler a coluna de Rogério Pereira. Nunca saio incólume de um texto dele, escritor das profundezas dos sentimentos. 

Por algum motivo o exemplar de junho ficou entre contas e propagandas sem ser lido. Dia desses dei de cara com ele e cumpri o rito. Ao ler o texto de J.C. "Um Sonho Alheio" em que ele conta que  encontrou um porco no box do banheiro de um hotel, me dei conta, de repente, de que, assim como seu motorista, eu também havia sonhado com um porco. O meu era rosado, risonho e alado e voava ao meu encontro. Achei que era - mais do que coincidência, um aviso - e decidi ir atrás de bilhetes de loteria. Descobri que as dezenas do porco são 69/70/71/72. A moça da lotérica me ofereceu quatro partes de um bilhete que me pareceu o nirvana dos porcos. 69769. Voltei pra casa imaginando o que iria fazer com a grana - garantidíssima - era só esperar o próximo sábado. O resultado, do primeiro ao quinto prêmio não chegou nem perto. Insisti e me empenhei na procura do porco. Acionei filha e genro para procurar o porquinho em Curitiba e nada. Ao cabo de uma semana ou duas, já havia gasto uma boa grana perseguindo um bicho que corria mais do que eu. Interrompi a caçada. Pior do que não ganhar é perder e era isto que eu estava fazendo. 



O Brinco de Pérola 

Saí pela portaria de manhã, deixei o lixo na lixeira do prédio e fui, à pé, buscar meu carro que estava na revisão. Enquanto o mecânico explicava o que haviam feito, uma tarraxa do meu brinco caiu sobre o balcão da recepção. Ficamos, os mecânicos e eu, a procurar o brinco que esteve preso à tarraxa, mas que não estava lá. Combinamos que, se o encontrassem, iriam me ligar. Paguei a conta e saí. Estacionei na garagem e fui pro meu apartamento.

Havia deixado o celular em casa e constatei que o grupo do condomínio estava numa intensa troca de mensagens. O motivo da indignação era porque o vaso grande que faz bonito na portaria tinha sido derrubado e o chão estava uma bagunça de terra espalhada. Quem foi o espírito de porco que virou o vaso e não limpou o chão? reclamavam indignados. Tenho que ir trabalhar senão eu limparia!  Então vai ficar essa sujeirada toda até segunda?" E por aí vai.

Achei estranho porque não fazia nem uma hora que eu tinha passado pela portaria e tudo estava em ordem. Inclusive notei que a planta tinha um broto novo e viçoso. Me ofereci para ir dar uma ajeitada na bagunça. Desci de vassoura e pazinha. Estava uma esbórnia. Na verdade, o vaso não tinha virado. O que aconteceu foi que o belo broto foi arrancado e com ele veio a touceira inteira, cheia de terra. A pessoa invisível que fez isto enfiou  parte da planta em um vaso pequeno, decorativo, e deixou a sujeira espalhada pelo chão. Me senti meio idiota limpando a bagunça toda. 
Às vezes damos pérolas aos porcos, pensava enquanto varria. 

Ao me abaixar para catar a terra com a pá vejo o meu brinco, no chão, quase na porta. Mais cedo, ao levar o lixo reciclável para o latão, o brinco deve ter caído e não percebi. Depois de tudo limpo subi feliz, com o meu brinco recuperado e pensei que os porcos são muito injustiçados. Neste caso a porcaria serviu para que eu encontrasse a pérola perdida. Não era o que eu pretendia, mas é correto afirmar que o porco me deu sorte.





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