quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Por Quê Nos Explicamos Tanto?

"Eu vim com pão, azeite e aço;
Me deram vinho, apreço, abraço:
O sal eu faço."
                        (Millôr Fernandes in HAI-KAIS)

Livrinho de bolso que ganhei de presente do meu  filho, os HAI-KAIS, do Millôr, têm lugar cativo na minha cabeceira. Está à mão, junto com outros que ganhei de gente que me conhece e me quer bem. Gosto de relê-los - aleatória - nas madrugadas de insônias eventuais. Tenho recortes de jornais, de crônicas e ensaios, abastecida que sou por amigos que a vida colocou no meu caminho conforme a absoluta máxima de que Deus, o Generoso, escancara amplas janelas onde a vida fechou portas estreitas. Leio um pouco e depois durmo outra vez, cada vez mais convicta de que quem gosta de um bom livro sempre estará na mais fina companhia.
São diversificados os prazeres da maturidade.

A mais elementar regra de economia, já dizia meu pai, nos ensina  que o mercado é regulado pela  lei inflexível da "oferta e procura". Se adaptarmos este conceito a nós, os maduros, veremos que a oferta de que dispomos - o tempo - é menor do que a procura do que ainda queremos. O que podemos fazer, numa análise objetiva dos recursos, já escassos, de que dispomos? Creio que um bom começo é perceber o que nos interessa e nos alegra e, como não podemos perder o foco, para não desperdiçar nosso "ativo precioso", precisamos agir imediatamente na defesa dos nossos interesses. Como começar?
São urgentes os prazeres da maturidade.

Penso que a primeira atitude seja a de parar de nos explicar e de nos justificar num esforço inútil de convencer quem quer que seja de que somos corretos e leais. De que somos confiáveis e de que temos um robusto retrospecto de exemplo, de coerência e de decência. Não temos" boas intenções". Somos pessoas boas. Não precisamos provar nada pra ninguém, mas devemos nos tratar com gentileza.
Se for necessário explicar o que fizemos ou deixamos de fazer estamos nos desperdiçando.
Bons amigos e bons amores não precisam de explicações. São relações de confiança recíproca.
São confortáveis. Dão paz. Trazem alegria.
São equilibrados os prazeres da maturidade.














3 comentários:

  1. Máximas preciosas extraídas de preciosas vivências!
    Brilhante texto. Parabéns!

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  2. Parabéns, Clévia !! Maturidade bem vivida, no dia a dia e na poesia! Abraço fraterno.

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  3. Ah! As vivências que nos moldam e modificam como precisam ser internalizadas para que a mudança aconteça!

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