"Fica, oh brisa fica pois talvez quem sabe
O inesperado faça uma surpresa
E traga alguém que queira te escutar
E junto a mim queira ficar."
Eu e a Brisa
Johnny Alf
Jesus sabia de vinho, de peixe, de pão e de compaixão. Sabia tanto que os multiplicava de acordo com a demanda. Maria sabia do filho e entendia de amor e de dor. E tem São Longuinho, a quem apelo sempre que perco óculos, chaves, celular... e me ponho a procurar diligentemente, pois as coisas de pedir ajuda funcionam muito bem quando fazemos a nossa parte e, ao encontrar o que perdi, lhe pago os três pulinhos acertados. Dever pra Santo não é uma boa ideia porque, logo ali, precisaremos de seus préstimos. A Maria, peço proteção para mim e para os meus, porque de bençãos as mães entendem. De promessas, fico com os pulinhos contratados com o Santo que encontra coisas perdidas. Ciosa com as dívidas, só contrato as que posso pagar. A Jesus não peço nada, porque ele já deu tudo. Dia desses fiz um peixe fresco, que comi com um pão escuro e bebi um vinho bom. Alinhei ideia e coração e sumiram tumulto e descompasso. Me senti bem.
Quando a vida muda o rumo e não manda aviso, a gente se embaralha um pouco, mas sabe que deve prestar atenção, até descobrir aonde será o nosso lugar no rearranjo novo. No mais das vezes só precisa trocar de pensamento, por isso eu acho que quem envelhece é mais adaptável do que os mais novos, pois isso, de mudar sentimento e pensamento, é coisa pra quem aprendeu um pouco da vida.
Porém, na mudança, a gente se leva toda. Nada de deixar, pelo caminho, nenhum pedaço de si. Como o espírito, e aqui discordo de novo com o lugar comum de que " velho bacana tem espírito jovem". Nada disso! Meu espírito e eu nascemos no mesmo dia e estamos a fazer aniversário por por mais de 60 anos, sempre juntos. Claro que, quando nos mudamos, ele leva as manias que adquiriu. Coisa de querer um espaço para se instalar com o conforto que ele sabe que o meu corpo necessita e que eu, mulher de poucas dores, não tenho muitas exigências. Mas é imprescindível que bata sol, entre luz e caibam meus livros, minhas panelas e meus amores.
De uns tempos para cá, os vidros de palmito vêm com um lacre na tampa que, removido com facilidade, permite a entrada do ar e a tampa abre sem esforço. O palmito entra na salada e acompanha do peixe à picanha. Os vinhos, com os novos saca rolhas, também dispensam força física e contém, em si, o que prometem.
Tudo o mais é bônus.
Precisamos, uns dos outros - para as imprecisões e as partilhas - foi Jesus que falou!
Para consertar coisas, a gente chama um técnico.
maravilhoso texto,minha querida! parabéns!
ResponderExcluirObrigada, minha amiga. Fico feliz que você tenha gostado.
ExcluirFantástico!
ResponderExcluirDescreve com maestria o show da vida.
.. e vamos partilhando pão e vinho que é o que de melhor fazemos a nós mesmos...
ExcluirNão para abrir vidros de palmito, nem para abrir a garrafa de vinho. Mas para saborear o peixe e o vinho. E escutar. Ficar.
ResponderExcluir... é o que importa...
Excluiré isso aí! Por aqui também estamos nos adaptando a novos tempos. O pior já passou. Ainda tudo muito nebuloso, mas seguimos em frente e com fé.
ResponderExcluirAinda bem que mudaram o pote de palmito.
beijos.
Que bom, minha filha. De certo mesmo é que mudaram a tampa do vidro de palmito...beijo, querida.
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