sábado, 29 de julho de 2017

A Viagem Que Não Fiz

 "Não queiras gostar de mim
    Sem que eu te peça
    Nem me dês nada que ao fim
    Eu não mereça..."
                         Artur Ribeiro   

Entendi que decidiram ir atrás de vinho e bacalhau e todos os et cetera e tal - que tem lá - em Portugal. Não sei ao certo, porque as coisas que nos chegam vem com o olhar de quem nos conta. Enfim, queriam que eu escrevesse sobre a viagem que elas fizeram. Ora, se eu não fui, como posso descrever como foi?  Sim, sim, mas a gente conta tudo direitinho e você organiza a narrativa. E começaram a falar, todas juntas, uma começava a contar um caso e a outra continuava ou interrompia, do jeito que só mulher sabe fazer e entender... E a cada lembrança, a cada história narrada, riam e se divertiam com o deleite das boas vivências. Contaram que cantaram fado - no palco - junto com a fadista e que, voltando a pé para o hotel, depois de um jantar animadíssimo, foram surpreendidas por uma chuva repentina e chegaram com cabelos e roupas pingando e se acabando de rir; que comeram bacalhau por uma vida inteira e que, de vinho, não se fartaram...
Munida das informações, dispensei-as. Espero corresponder às expectativas...

A primeira coisa que fiz foi ouvir uns fados para entrar no clima - os mais conhecidos - na voz de Amália Rodrigues e Francisco José e escolhi o De Quem Eu Gosto  - para me inspirar - porque todo mundo conhece, muita gente gravou e tem uma letra maravilhosa. O compositor é Artur Ribeiro, nascido na cidade do Porto em 1924, com mais de mil obras entre canções e letras.
De modos que cá estou embebida de fado e acompanhada do Porto ou embebida de Porto e acompanhada do fado - tanto faz - no esforço de verter uma história que não é minha. É a primeira vez que conto uma viagem que não fiz e estou curtindo bastante; tá certo que me acompanha a nostalgia do canto e tenho a ajuda do vinho que me trouxeram - sabem das coisas -  essas meninas.

Foi bonita e divertida a viagem que fizeram essas sete mulheres maduras de idades variadas. Têm a habilidade de viver que a experiência confere e legitima. Cometeram erros e revisaram certezas. Recomeçaram muitas vezes. Levantaram outras tantas. Têm a percepção serena de que a finitude é inevitável e que devem a si mesmas as alegrias que dão sentido à existência. Sabem como levar a vida de um jeito bom. E levam!
Viagens boas são as que estamos em boa companhia a começar pela própria.

























                  

4 comentários:

  1. E Vamos nós..... bacalhau, vinho e muita filosofia.

    Nelcy.I.

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  2. Que relato inspirado e inspirador!
    Contagia.
    Vontade de fazer está viagem!

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    Respostas
    1. ...e não é ? "Viagens" boas são assim... primeiro me deixo ir... e depois eu vou...

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