terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Vamos Falar de Dezembro?

"Nem tão plana, nem tão plena."
  Cátia Moraes/Mulherio das Letras - Rio de Janeiro
                   

Dezembro não começa, se apossa. Inocula-se, devagarinho, no início de novembro com o aparecimento das primeiras vitrines de enfeites natalinos, e continua - janeiro a dentro - quando a ressaca chega junto com a fatura do cartão de crédito. Depois, premido por confetes e serpentinas dá lugar a fevereiro. Deve vir daí a expressão "o ano só começa em março". Dezembro não termina, se exaure. É tão intenso que o sinto plural - dezembros. É fim e começo.Tudo se movimenta!  É tempo de restaurantes - bares e afins - lotados. Mês de agenda cheia de confraternizações, encerramentos e fechamentos. Todo mundo corre, se atrasa, não tem tempo... parecemos o coelho da Alice a passar correndo enquanto grita, aflito: Ai, os meus bigodes! Alô, adeus, alô, adeus! É tarde, é tarde, é tarde, é tarde até que arde!

Surgem, em dezembro, dois times, os "Amo Natal" e os "Odeio Natal." Quem faz parte do primeiro enfeita a casa toda. Cozinha, quarto, banheiro, caminha do Pet  - ele inclusive - nada escapa.
O outro time se irrita com tudo - do trânsito à alegria de quem gosta da festa. E tem a maioria, que pendura guirlanda na porta, participa de grupos de amigo secreto e escolhe, com cuidado, os presentes para agradar a quem a agrada. Passado o natal, os times hibernam para voltar, revigorados, no próximo ano. Como gosto não se discute, é uma rivalidade sem sequelas.

É um tempo generalizado de nervosismo e impaciência. Tudo urge, tudo é pra agora. Há de se dar conta de tudo, para que tudo saia perfeito, seja lá o que isso signifique.

Tenho a impressão de que - se aquietássemos um pouco - ouviríamos Ele - o Dono da Festa - a nos soprar ao pé do ouvido "falta um pouco mais de calma, falta um pouco mais de alma."















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