terça-feira, 14 de julho de 2020

Fragmentos



Minha amiga se mudou para perto dos filhos e netos. Foi atrás do que lhe faltava. Disse que volta, quando sentir que aqui está melhor do que lá. Foi sem compromisso. Certa, ela.
Decisões definitivas costumam ser ardilosas. Pessoalmente, diante de uma escolha difícil, me pergunto o que estou disposta a perder e, em nome de quê? Tem dado certo.

A situação alongada de exceção, que afeta todo mundo e o mundo inteiro e, com a qual lidamos, uns como se deve, outros como não se deve e - a maioria absoluta, como dá - é um desafio, uma batalha, uma luta, um espanto e todos os sinônimos que existem.

Quando a minha neta, dezesseis anos recém completados, me disse que "se sentia roubada pela vida"
eu respondi que a entendia, que me sentia roubada também. E  ela acrescentou, demorei 16 anos pra ter 16 anos! Argumentei que levara 67 para ter 67 e apelei para a historinha da bacia de cerejas que volta e meia aparece, cuja "autoria" é creditada a escritores famosos, de Fernando Pessoa a Cora Coralina. Ela não se comove e retruca que 67 é só a consequência óbvia de 66.
Vovó, você tem praticamente 70 anos!
Vencida, respondo que talvez ela não acredite mas, já tive dezesseis anos. Me olha, com o rabo do olho, e não diz nada.

E me vejo saindo de casa de calça comprida, como se dizia, levando na bolsa uma mini saia curtíssima para trocar na casa da amiga. Se não fizesse isso, não sairia de saia. Não com aquela.
Seria barrada antes de chegar ao portão. Conto pra ela que retruca sorrindo, não consigo imaginar você de mini saia, vovó.
Nocauteada, desisto do assunto.

E penso que a minha rebeldia adolescente parou por aí, na saia curta e em roubar o carro quando meu pai ia pescar. Mal alcancei os pedais ele me considerou apta a dirigir. E me ensinou. Eu tinha 13 anos. Hoje é ilegal, e continua sendo perigoso. 

Bom senso e autonomia, desde que o nosso estado cognitivo e físico funcionem  - o quando baste - e um olhar distraído sobre a pandemia, nos  permitem  manter o bom humor para  tocar a vida.
E seguir os protocolos do distanciamento social.
Pensar demais, definitivamente, não dá!

                                 
















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