E tomo os remédios.
E ouço que é preciso disciplina, força de vontade e, mais do que tudo - gratidão!
Sou grata claro, pelo que tenho e pelo que posso, mas isso não exclui o medo e o custo de ficar isolada.
E me concentro no quesito disciplina e arrumo a casa, lavo a louça, tiro o pó. Tento - às vezes consigo - almoçar perto do meio dia, jantar por volta das sete e meia e me jogar no sofá só depois da cozinha arrumada. Suponho que a força de vontade faça parte do pacote. São siamesas as duas, disciplina e força de vontade, ou vice versa.
Enquanto escrevo, recebo um vídeo de um novo teste para renovar a CNH dos idosos. Consiste em conseguir enfiar a linha na agulha, presa à tampa de uma garrafa PET, que está no chão. O carretel de linha está preso à lateral do carro. O objetivo é conseguir aproximar o veículo com tal precisão, ao ponto de conseguir introduzir a linha na agulha.
É uma piada, sem dúvida, mas eloquente.
Me distraio com a voz da vizinha gentil que, todos os dias, de manhã e no fim da tarde, retorna com os seus cães e negocia com eles para limpar-lhes as patinhas. São três, e penso que ela higieniza - hoje ninguém mais limpa - só higieniza - vinte e quatro patas a cada dia.
Consome um tempo enorme e sinto uma espécie de inveja ao entender que ela gasta - feliz - quase a metade do dia.
Desisto de escrever e saio para apanhar sol na sacada. Me debruço no guarda corpo do terraço e meus olhos caem na casa da vizinha em frente. Moça nova e bonita, dispõe o que a casa contém na varanda, na garagem, no quintal. De camas à cadeiras, de máquinas à roupas. E sacos plásticos cheios, não sei do quê. Às vezes não as recolhe, as tralhas, findo o dia, findo o sol. E elas amanhecem no mesmo lugar onde o meu olhar as reconhecem no dia seguinte.
E vejo que já passa da uma da tarde e nem comecei o almoço. Paro e encaro o fogão. Preparo uma galinha em pedaços, embalados desossados e quero crer no que a embalagem informa: "Sem uso de hormônios como estabelece a legislação brasileira." Cozinho aipim para acompanhar e penso que ainda não decidi se prefiro galinha ensopada com polenta ou com aipim. Existem dúvidas sem solução e sem consequências. Esta é uma delas.
O tempo passa e, finalmente, a galinhada está pronta. Não sei mais se almoço ou janto. E lembro dos meus filhos pequenos, quando ficávamos na praia até muito depois do almoço e eu preparava um "almojanta". "Almojantei" hoje e senti falta deles.
E, muito mais tangível e menos nostálgico do que o que a memória evoca, senti falta dos ossos nas coxas e sobrecoxas do frango.
Talvez viver seja assim, o lidar com os ossos é o que nos permite apreciar o sabor da carne.
E, muito mais tangível e menos nostálgico do que o que a memória evoca, senti falta dos ossos nas coxas e sobrecoxas do frango.
Talvez viver seja assim, o lidar com os ossos é o que nos permite apreciar o sabor da carne.
Não limpei patinhas de cães e nem coloquei minha cama no terraço mas, também para mim, o dia termina.
Manda a receita completa. Rs
ResponderExcluireu estava contando a história do almojanta esses dias para o Marlos! Ele ficou abismado, sabe como tem que ser tudo no horário certinho pra ele. Saudades <3
ResponderExcluirTem algo em comum.relembro também .
ResponderExcluirTem algo em comum. Relembro também.
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