Tropeçou, no meio do caminho entre a sala e o quarto, em uma coisa mole e escura, que não identificou de imediato. De susto, o coração disparou e a vista, na penumbra, não identificou o que era até que a criatura abriu as asas e, apavorada também, voou um voo tonto e torto e entrou quarto a dentro. A reação foi de gritar, histérica, mas o senso prático lhe alertou que pití precisa de platéia. Mais de meia noite e um grito iria - em vez de trazer ajuda - irritar os vizinhos. O morcego se enfiou embaixo da cama e ela fechou a porta à chave, pelo lado de fora, para se assegurar de que por ali ele não sairia. Vai que o cara é iniciado nessas coisas de abrir portas...mas deixou a janela aberta. Ele que fosse sensato e se escafedesse dali.
Tinha de dormir no quarto desocupado e, após um rápido balanço dos recursos disponíveis, viu que a situação não era tão grave. No banheiro tinha sabonete, papel higiênico (ufa) e uma toalha de rosto. Roupas de cama são guardadas no quarto que, nesta noite, era exclusivo do morcego. Travesseiro, quem precisa? Dormiu bem.
Na manhã seguinte foi pedir ajuda ao síndico que andava cheio de moral porque tinha, dias antes, pegado uma cobra pelo pescoço (sic) bem ao lado do seu carro, na garagem do prédio. Até comentou que se não tivesse entregado a jararaca para os bombeiros, ela poderia dar cabo do morcego. Ah! E quem daria cabo da cobra? Eu, ele disse - peguei uma vez, pego outra! Sacudimos lençóis, colcha, arrastamos cama e outros móveis e nada do cara. O síndico, conhecedor desses bichos, decidiu que ele estava preso no tecido que forra o fundo do estrado da cama box, penduradinho pelas patinhas e que de noite iria embora.
A filha sugeriu que ela fizesse um "caminho de frutinhas picadinhas" que atrairiam o morcego e ele sairia do esconderijo. E daí, que faço? Aí você joga um pano sobre ele assim, do jeito que se pega passarinho que adentra pela nossa janela. Fez todo o sentido a sugestão da moça que tem um vizinho inqualificável, que grita impropérios e xingamentos indecentes para todas as mulheres nas madrugadas em que, alterado e bêbado, se acha no direito de ser insuportável. Ela, ao se referir ao homem, afirma que ele é uma pessoa muito deselegante. Daí a dar frutinhas e cobertinhas ao morcego faz todo o sentido. Que a vida a conserve assim.
A situação não se definia e ela decidiu encerrar o assunto. Resolveu que ele havia saído da mesma maneira como tinha entrado e que não existia mais risco nenhum. Além disso, concluiu, como não fora convidado ficou claro que era um simples morceguinho porque os vampiros só entram mediante convite formal.
Negociou com um medo antigo e ponderou:" sensato mesmo foi ter trancado a porta do quarto à chave."
Sensacional!!!
ResponderExcluirEu não invento, só aumento....
ExcluirQue tal um bichinho de estimação ?
ResponderExcluirBatPet (no bom idioma global....)
Nesses tempos do "politicamente correto", precisamos respeitar os sentimentos do morcegos...
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