"Pra lembrar que quando a vida
esmurra a porta
A gente solta o trinco e lhe oferece
um chá
Pede calma e bota a alma pra pensar"
Zélia Duncan/ Feliz Caminhar
Aproveitei o gancho, dia desses, numa publicação da Mônica - radiosa companheira de ofício - que comentava, feliz, "que aquele era dia de fazer sagu" e aproveitei para republicar um texto antigo, onde contei da dificuldade que tenho em acertar o o ponto do dito cujo. Sou boa, sem falsa modéstia, nessas coisas de doce de ponto. Mas o sagu me frustra sempre. Desisti.
Travada pelas circunstâncias - pelo pandemônio da epidemia - e esta não é, infelizmente, uma figura de retórica, desisti de postar as minhas percepções do isolamento.
Após três textos sobre o assunto, ao reler o quarto que escrevi - e não postei, por repetitivo - senti a aridez dos desertos, mas o sagu da Mônica me soprou caminhos para um oásis tangível, me pousou no chão seguro do corriqueiro, do conhecido, do que nos norteia.
No momento, a humanidade enfrenta o medo e cada um lida com a frustração do interrompido, do que teve que cancelar e desistir. Do afastamento uns dos outros, e também do confinamento de uns com os outros. A minha, óbvia, é a constatação de que o primeiro livro lançado em idade madura, que me deu uma alegria imensa e genuína, que começava a andar sozinho e que abria um caminho bonito, está suspenso num limbo ao qual não tenho acesso, à espera, à espera, à espera.
Ele e eu.
Minha amiga Maristela, amorosa e preocupada, me estimula e manda links e insiste e desenha caminhos e me indica pessoas para que eu faça lives para promover meu "Terceiro Ato".
Em um deles, me alerta que só posso falar durante quarenta minutos. E penso sobre o que teria a dizer por quarenta minutos se, quando recebo vídeo chamadas e, - antes dos quatro - me invade um desassossego que me força a terminar a conversa, mesmo que seja com a minha filha amada que mora em Lisboa e que não vejo desde o ano passado?
Então, a Mônica aparece com o conforto familiar do sagu e - naquele momento - coloca tudo no lugar e parece que tudo vai acabar bem.
Comecei este texto há dois dias. Pretendia ultimá-lo e publicá-lo ontem. Porém, os fatos se atropelaram de tal maneira, com tanta violência, assombro e susto que, mais uma uma vez me vi travada.
Junta-se o medo da doença com o assombro da crise política. Particularmente me sinto como se estivesse num barco à deriva, sem âncora e sem cais à vista.
E não consegui escrever nenhuma linha.
Decidi, neste sábado de isolamento, me recolher para me preservar. Ouvir música, ler um pouco, reabastecer a geladeira, - o que faço uma vez por semana - e que me toma um tempo danado quando volto pra casa para lavar, limpar e desinfetar minhas roupas e as compras.
E entendi que sou eu que dou sentido à vida que é minha. E o texto voltou a fluir.
Boa semana a todos!
Obrigado. Boa semana.
ResponderExcluirDe nada.
ResponderExcluir