quarta-feira, 1 de abril de 2020

O Isolamento e Nós.



Décimo quinto dia de isolamento e releio o texto da semana passada para balanço. Comparo o próprio estado emocional daquele dia com o de hoje. De maneira geral, minha estratégia tem funcionado. Porém, aumentou a necessidade de me apoiar em algumas falas que ouço e em escritos que falam comigo.

Como a entrevista de uma psicóloga que trabalha com idosos que, questionada sobre o desafio da solidão para este grupo, respondeu, "os idosos têm mais espaços de solidão." Também disse que a Internet nos tem sido importantíssima - eu concordo - e acrescentou que, como é uma ferramenta que não fez parte da maior parte da nossa vida, também temos, na prática, na lida do dia a dia, uma experiência rica de solitude. Ficamos confortáveis sozinhos. Isso é solitude.
Entendo e sinto assim, e esta verdade tem sido muito útil, neste momento.

Está sendo de muita ajuda, também, a entrevista com o escritor sergipano Francisco J. C. Dantas, sobre seu ultimo livro "Uma jornada como tantas" concedida ao jornalista Luiz Rebinski e publicada no Jornal Relevo, da Editora Letras & Livros de Curitiba -  edição de março. Leituras interessantes fazem um grande bem.
Professor de literatura, teve o primeiro livro publicado aos 50 anos, em 1991. A conversa inteira é um deleite, daqueles de voltar e ler de novo. Considerado um escritor regionalista porque pratica uma escrita com termos e expressões da tradição oral, ele solta pensamentos de vivência profunda, ensina sem  pretender, alarga o olhar, de graça, é só sentir e querer.

Certo que ontem passei duas horas dando um trato na máquina de lavar roupa. Limpei o cestinho que filtra impurezas com minúcia desmedida. Foram uns vinte palitos de dente para que a gradinha ficasse como nova.

E, hoje pela manhã, atendendo o chamado da equipe da Secretaria da Saúde que percorre todas as ruas da cidade convocando os idosos para tomar a vacina da gripe, eu tenha agradecido, comovida, num sentimento misto de cidadania e acolhimento.

E, em seguida, liguei para a minha amiga que também mora aqui para contar toda contente, que eu também já tinha recebido a vacina. Na rua dela foi ontem.

E, nós duas choramos ao telefone e depois rimos muito porque percebemos que "até parecemos duas velhinhas bobas e felizes porque tomaram vacina". E rimos mais ainda porque não só parecia, era o que estávamos fazendo.
As sandices que confesso funcionam para manter o equilíbrio emocional para que o corpo não adoeça.
Um pouco de doidice é indispensável para mensurar a normalidade.




3 comentários:

  1. Amiga já conversei tanto com minhas paredes e contei a elas muitas histórias e causos e casos mim que pra ter sossego de minhas memórias elas estão usando fones de ouvidos.

    ResponderExcluir
  2. "Foram uns vinte palitos de dente para que a gradinha ficasse como nova."
    Parabéns pela persistência. Várias vezes começo um serviço e não acabo.

    ResponderExcluir
  3. Eu da De. Vera nós ocupamos limpando os quadradinhos do elemento vazado da lavanderia; 280 só...E o pessoal da vacina AINDA não passou por aqui.

    ResponderExcluir