quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Dos Livros Que Não Roubei

Tenho uma amiga que me empresta livros. Dia desses me veio com um, fininho, e disse  "esse você lê de uma pegada só". Li em duas. Livro denso, daqueles que entram direto e fazem liga com o que conhecemos, trata dos desencontros, do nunca dito, do que se supunha que seria... uma sucessão de equívocos e de mal - entendidos. Conta a história de um jovem casal que se separa, definitivamente, na própria noite de núpcias, onde cada um, no início dos anos sessenta - sujeitos à regras definitivas - segue a cartilha do comportamento "esperado". Cada um no seu papel. Foi um desastre e uma tragédia que entristeceu e atormentou a vida de ambos.

Inexperientes e desajeitados - onde um não teve culpa o outro não teve razão  - ambos foram vítimas dos tabus que infernizam a vida. Se tivessem se dado o tempo de que precisavam, o episódio poderia ter se transformado em uma lembrança divertida na vida de ambos. Não conseguiram. Nunca mais se falaram. Riscaram-se, mutuamente, um da vida do outro. Não passavam mais por caminhos percorridos juntos, alegres e felizes. Não frequentaram, nunca mais, os lugares onde estiveram. E esse evitar consciente serviu para manter a mágoa viva. Tornaram-se, um na vida do outro, uma ausência mais presente do que se estivessem juntos. Foram vítimas, também, da própria rigidez. Como nunca conseguiram conversar sobre o que ocorrera, a coisa ficou assim, mal resolvida, e a página nunca foi virada.

É um alívio saber que tabus foram sendo derrubados, um a um, e os preconceitos são combatidos e condenados todos os dias. Os costumes mudam, o certo de ontem não é mais o de hoje e quanto mais conseguirmos reavaliar certezas e até mudar de opinião, mais teremos ferramentas para ir tocando a vida. Talvez, com o tempo, consigamos resolver as pendências que foram ficando pelo caminho - e, se não for possível com os desafetos - é imprescindível ter flexibilidade para "ficar de bem" conosco mesmos. E virar a página.

 










 






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